O BlogBESSS...

Bem-Vindos!


Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


A possibilidade de os leitores e autores deixarem comentários, de forma sequencial e interativa, corresponde à natureza essencial dos blogues
e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


Colabore nos Projetos "Autor do Mês..." (Para saber como colaborar deverá ler a mensagem de 20 de fevereiro de 2009) e "Leituras Soltas..."
(Leia a mensagem de 10 de abril de 2009).


Não se esqueça, ainda, de ler as regras de utilização do
BlogBESSS e as indicações de "Como Comentar.." nas mensagens de 10 de fevereiro de 2009.


A Biblioteca Escolar da ESSS

PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


domingo, 26 de março de 2017

O Camões Lírico


Luís de Camões é um poeta português do século XVI que se destaca dos demais poetas do seu tempo pelo cunho pessoal único que dá ao seu trabalho poético. A sua marca na literatura portuguesa prende-se com uma admirável síntese artística da lírica tradicional portuguesa com as influências que recebeu da literatura clássica antiga e da literatura italiana do fim da Idade Média, representando essa síntese a razão de ser da sua singularidade para além do facto de Camões ultrapassar as convenções da poesia do seu tempo, distinguindo-se, também por isso, dos poetas seus coevos.

Nas composições líricas de Camões manifestam-se dois tipos de mulher: a mulher petrarquista e o ideal de Vénus. A primeira, de cariz exclusivamente espiritual, representa a mulher numa dimensão etérea, colocando-a numa idealização de qualidades psicológicas e, assim, num plano inacessível ao amado, estabelecendo-se uma relação de vassalo e suserano entre ambos (“Um mover d’ olhos brando e piadoso”). O ideal de Vénus, pelo contrário, surge como uma representação carnal da figura feminina, com contornos definidos e palpáveis e de profunda sensualidade (“Descalça vai pera a fonte/Lianor pela verdura”). Corresponde à exaltação da dimensão sensível e terrena do amor, permitindo ao homem libertar-se das convenções sociais em que vive, uma vez que surge associada não só à beleza como também à sedução.

Para além do antagonismo presente na caracterização da mulher em Camões, a sua poesia de cunho autobiográfico (“Erros meus, má fortuna, amor ardente”) inscreve a experiência pessoal do poeta (“Endechas a bárbara escrava”), que, através das suas vivências, tornam únicos os episódios de vida cantados. Para além do amor não correspondido e das peripécias que tenham resultado de um temperamento arrebatado, surge, assim, um sofrimento que domina a expressão lírica do poeta sempre vitimado por um destino omnipresente e inexorável. No soneto “Erros meus, má fortuna, amor ardente” o poeta atribui aos fados a grande causa da sua “perdição”.

Outro dos aspetos que distancia Camões da poesia do seu tempo é a presença quase constante do sentimento de revolta. À volta deste tema, o poeta manifesta a sua indignação pela sociedade em que se encontra encarcerado, sendo possível identificar a existência de um desespero humanista (“Esparsa sua ao desconcerto do mundo”) e que concorre para a construção de uma poesia mais pessoal e menos convencional. Estamos longe da contenção e do equilíbrio de algumas composições mais marcadas pelo otimismo e pela confiança renascentistas. Nas suas poesias mais marcadas pelo Maneirismo, Camões representa um cenário apocalíptico que marca o desespero e a revolta perante a sua vida e o mundo (“O dia em que eu nasci moura e pereça”).

Contemplação, experiência pessoal, revolta, são várias as razões que contribuem para a distinção da lírica camoniana, destacando-se principalmente a naturalidade, a simplicidade, a agilidade e o cunho pessoal singular que Camões deu à poesia do seu tempo e que torna a sua poesia única. 


Autor: Vasco Ramos, 10º D
Prof. João Morais

domingo, 19 de março de 2017

A Representação da mulher em Camões Lírico


Na lírica camoniana há um confronto entre dois tipos de mulher: uma de configuração espiritual e a outra corporizada e associada à sedução do sujeito poético.

A mulher petrarquista é um ideal de mulher enquanto ser superior, servida pelo amado, estabelecendo-se, assim, uma relação entre vassalo e suserano, à semelhança do que ocorria na poesia provençal – que influencia a nossa cantiga de amor. Camões, seguindo as ideias de Petrarca, que desenvolve este ideal amoroso no Renascimento, por vezes, caracteriza a mulher como um ser sem corpo visível, na qual prevalecem a serenidade, a harmonia e os traços psicológicos de um modo geral. Isto confere à figura feminina uma dimensão etérea, que a coloca num plano inacessível. Daí surge a dificuldade da caracterização física da mulher (“Um mover d’olhos, brando e piadoso”). Este ideal permite a sublimação de um sentimento amoroso de dimensão unicamente espiritual.

Ao ideal de Vénus, pelo contrário, está associada uma figura feminina que é corporizada, ou seja, com contornos definidos e palpáveis e de uma intensa sensualidade (“Descalça vai para a fonte”). Porém, a mulher também é inacessível, pois o conceito de amor está associado à frustração inerente à experiência amorosa de Camões (“Erros meus, má fortuna, amor ardente”), a figuras mitológicas (“Circe”) e a locais utópicos («Alma minha gentil que te partiste»). Este ideal corresponde à exaltação sensível e terrena do amor.

Assim, na poesia lírica de Camões há uma forte tensão entre dois ideais de mulher: a mulher petrarquista de configuração espiritual, distante e abstrata, por um lado, e a mulher associada ao ideal de Vénus, por outro, que é corporizada e tem uma profunda sensualidade. O vilancete “Perdigão perdeu a pena” é particularmente elucidativo dessa tensão entre um projeto de elevação no amor e o facto de o poeta se ater a uma dimensão terrena do amor.
Autor: Maria Teresa Abrantes
Prof. João Morais

quinta-feira, 2 de março de 2017

Telmo ou o caso de um percurso singular

A peça Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, de entre as diversas personagens-tipo, por definição representativas de uma classe social, e personagens planas, com características que obedecem a um padrão, inaugura no espaço do teatro português a aventura do indivíduo que tem um destino próprio. 

Este velho escudeiro de D. João de Portugal destaca-se, numa fase inicial, pelas severas convicções ideológicas e afetivas, que o levam a criticar D. Madalena por se ter casado pela segunda vez sem estar absolutamente certa da morte do primeiro marido, chegando mesmo a sugerir que, em consequência disso, Maria poderá não ser uma filha legítima. A inflexibilidade que revela e que se manifesta, por exemplo, no facto de nunca mentir, virá, porém, a ser desfeita depois da chegada do Romeiro. Confrontado com a necessidade de salvar Maria, apercebe-se de que já amava mais a filha que ele temia ser bastarda do que ao próprio amo. Assim, dispõe-se, pela primeira vez na vida, a mentir em nome dos afetos. Apercebe-se, então, de que o amor, por vezes, se sobrepõe aos princípios morais. 

Na cena IV do Ato III, o monólogo de Telmo revela o seu conflito interior: por um lado, sempre ansiou pelo regresso do seu amo; por outro, mostra que o seu amor por Maria é agora maior do que a fidelidade cavaleiresca a D. João de Portugal. Os sentimentos experimentados pela personagem (o medo, a confusão, a ansiedade) e o facto de o seu amor por Maria prevalecer sobre o que tem pelo seu amo contribuem para que Telmo considere as suas atitudes um pecado, o que, pelo espírito cristão que caracteriza Telmo e o Romantismo, concorre para a intensificação desse estado de alma perturbado. A tensão vai variando de intensidade ao longo da cena referida porque a diferença de saberes é diferente: o público já conhece a identidade do Romeiro enquanto Telmo desconhece-a até à cena seguinte. Cria-se, assim, a expectativa de Telmo vir a conhecer de seguida a verdadeira identidade do Romeiro, expectativa essa que emerge no discurso com uma profunda dilaceração interior da personagem, que se reflete nas frases curtas e interrompidas como quem experimenta um bloqueio mental e, assim, verbal. 

Em conclusão, Telmo, a personagem modelada da peça, sofre profundas alterações ao longo da ação, que, para além das suas configurações ideológicas, assentam numa substituição do objeto amado, sem que isso dispense uma mutilação afetiva. É nesse quadro que se constrói Telmo, personagem modelada que cumpre esse desígnio eminentemente romântico.

Autora:  Oleksandra Sokolan, 11ºC 
Prof. João Morais