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Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


A possibilidade de os leitores e autores deixarem comentários, de forma sequencial e interativa, corresponde à natureza essencial dos blogues
e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


Colabore nos Projetos "Autor do Mês..." (Para saber como colaborar deverá ler a mensagem de 20 de fevereiro de 2009) e "Leituras Soltas..."
(Leia a mensagem de 10 de abril de 2009).


Não se esqueça, ainda, de ler as regras de utilização do
BlogBESSS e as indicações de "Como Comentar.." nas mensagens de 10 de fevereiro de 2009.


A Biblioteca Escolar da ESSS

PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Relação entre os poemas “Autopsicografia” e “Isto”


Os poemas “Autopsicografia” e “Isto”, de Fernando Pessoa ortónimo, apresentam como tema principal o fingimento poético e são marcados pelo confronto entre imaginar e sentir. O poeta descreve o funcionamento da sua mente quando exprime a sua arte, partindo da realidade, intelectualizando-a.
Em “Autopsicografia”, a dor é representada como um processo de fingimento, pois o poeta vai reelaborar a dor sentida numa dor intelectualizada no ato da criação literária (“O poeta é um fingidor.”). O processo de fingimento é tão elaborado que o poeta vai proceder a uma dor intelectualizada a partir da dor que inicialmente sente (“Finge tão completamente | Que chega a fingir que é dor | A dor que deveras sente. “). Primeiro, o sujeito poético sente a dor (“ A dor que deveras sente. “) e, depois, transforma-a numa dor fingida (“ Que chega a fingir que é dor “).
Na segunda estrofe, o sujeito poético alude ao prazer estético por parte do leitor. Este não sente a dor real que o poeta sentiu, nem a dor fingida que o poeta imaginou (“ Não as duas que ele teve, “), nem a dor que eles, leitores, têm (“ Na dor lida sentem bem, “), mas sim uma dor estética que provém da leitura, ou seja, uma dor intelectualizada que provém da interpretação do leitor ao ler o poema (“Mas só a que eles não têm. “).
A última estrofe apresenta, metaforicamente, a relação entre a razão e o coração. Se, por um lado, o “comboio de corda” é uma metáfora de coração, por outro lado, “calhas de roda” é igualmente uma metáfora de razão, o que significa que a dor sentida (“ A dor que deveras sente. “), relacionada com o coração, é comandada, intelectualmente, pela razão (“ Gira a entreter a razão, | Esse comboio de corda | Que se chama coração. “), que, assim, corresponde à dor fingida (“Que chega a fingir que é dor“), resultado de uma elaboração mental da primeira dor, que vem do coração.
O processo de transformação retratado no poema “Autopsicografia” é retomado no poema "Isto". No entanto, enquanto no poema “Autopsicografia” o poeta distingue entre sensação (dor sentida) e fingimento (dor fingida), aqui existe uma simultaneidade entre o sentir e a imaginação, ou razão. Aquilo que o poeta sente é imediatamente reelaborado pela razão (“ Eu simplesmente sinto com a imaginação. “) e não pelos sentimentos (“ Não uso o coração. “).
A segunda estrofe constitui uma confirmação do conteúdo da primeira estrofe, baseada na experiência vivida. Todas as contingências da vida real do poeta ("Tudo o que sonho ou passo, | O que me falha ou finda") são tudo aquilo que permite o acesso ao mundo sensível, que permite o exercício das sensações (“ É como que um terraço “) e não a um mundo inteligível, com uma realidade imaginada (“Sobre outra coisa ainda. | Essa coisa é que é linda.“).
 Na terceira estrofe, o sujeito lírico, em jeito de conclusão (“Por isso […]“), distancia-se de qualquer envolvimento ao nível da emoção e dos sentimentos (“Livre do meu enleio,“), optando por reelaborar no texto aquilo que foi produzido pela imaginação. No último verso (“Sentir? Sinta quem lê!“), o poeta ironiza, exibindo uma atitude de desprezo pelos leitores da tradição romântica, que valorizam o sentir e que têm a opinião de que o nosso Pessoa – referimos agora o autor – finge tudo o que escreve (“Dizem que finjo ou minto | Tudo que escrevo. […]“), por prezar a imaginação, ser racional e, assim, não se deixar envolver no sentimento.
Relativamente ao plano formal, ambos os poemas apresentam uma forte vertente de equilíbrio — ou não estivéssemos nós a falar da contenção das emoções!
No poema “Autopsicografia” existe isomorfismo, apresentando três quadras. No entanto, o poema “Isto”, apesar de também apresentar isomorfismo, é composto por três quintilhas. Sendo o  isometrismo uma marca dos dois textos, em “Autopsicografia”, os versos apresentam uma métrica regular de sete versos também chamada redondilha maior (“Finge tão completamente”); em “Isto”, a métrica já é de seis versos (“Tudo que escrevo. Não.”). A rima em “Autopsicografia” é sempre cruzada, ou seja, apresenta um esquema rimático de a,b,a,b (“[…] fingidor| […] completamente| […] dor| […] sente.”). O poema “Isto” apresenta um esquema rimático de a,b,a,b,b, tendo rimas cruzadas e emparelhadas (“[…] minto| […] Não.| […] sinto| […] imaginação.| […] coração.”). Quer num quer no outro texto há uma eufonia dos versos muito percetível para a qual concorre o ritmo muito marcado (alternado). Em ambos os poemas, o léxico e a sintaxe são de uma grande simplicidade, pelo menos no que toca às primeiras aparências…
Após a leitura dos dois poemas, é possível verificar que Fernando Pessoa, mais que nenhum outro escritor – não foi ele que levou a heteronímia até às últimas consequências?! –, recusa a poesia como expressão imediata das sensações, o está de acordo com o critério da despersonalização, transversal a muitos vultos do Modernismo, como renúncia do conceito da sinceridade.

Autoria: Sara Isabel Gonçalves Precatado, nº31, 12ºA, Prof. João Morais

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