O BlogBESSS...

Bem-Vindos!


Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


A possibilidade de os leitores e autores deixarem comentários, de forma sequencial e interativa, corresponde à natureza essencial dos blogues
e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


Colabore nos Projetos "Autor do Mês..." (Para saber como colaborar deverá ler a mensagem de 20 de fevereiro de 2009) e "Leituras Soltas..."
(Leia a mensagem de 10 de abril de 2009).


Não se esqueça, ainda, de ler as regras de utilização do
BlogBESSS e as indicações de "Como Comentar.." nas mensagens de 10 de fevereiro de 2009.


A Biblioteca Escolar da ESSS

PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


terça-feira, 5 de maio de 2015

Teste de Português, 11º Ano, Turma G - Prof.º João Morais e Cenários de Resposta...

Enunciado

I 
Lê atentamente o seguinte excerto d’ Os Maias:
     Subitamente, com uma ideia, apalpou por sobre o bolso a carteira onde na véspera guardara a carta do Dâmaso… «Eu t’ arranjo!», murmurou ele. E abalou, desceu a Rua da Trindade, cortou pelo Loreto como uma pedra que rola, enfiou, ao fundo da Praça de Camões, num grande portão que uma lanterna alumiava. Era a redação d’ «A Tarde».
     Dentro do pátio desse jornal elegante fedia. Na escadaria de pedra, sem luz, cruzou um sujeito ancatarroado que lhe disse que o Neves estava em cima no cavaco. O Neves, deputado, político, director d’ «A Tarde», fora, havia anos, numas férias, seu companheiro de casa no Largo do Carmo; e desde esse Verão alegre em que o Neves lhe ficara sempre devendo três moedas, os dois tratavam-se por tu.
     Foi encontrá-lo numa vasta sala alumiada por bicos de gás sem globo, sentado na borda de uma mesa atulhada de jornais, com o chapéu para a nuca, discursando a alguns cavalheiros de província que o escutavam de pé, num respeito de crentes. Num vão de janela, com dois homens de idade, um rapaz esgalgado, de jaquetão de cheviote claro e uma cabeleira crespa que parecia erguida numa rajada de vento, bracejava como um moinho na crista de um monte. E, abancando, outro sujeito já calvo rascunhava laboriosamente uma tira de papel.
     Ao ver o Ega (um íntimo do Gouvarinho) ali na redacção, naquela noite de intriga, Neves cravou nele os olhos tão curiosos, tão inquietos, que o Ega apressou-se a dizer:
     – Nada de política, negócio particular… Não te interrompas. Depois falaremos.
     O outro findou a injúria que estava lançando ao José Bento, «essa grande besta que fora meter no bico da amiga do Sousa e Sá, o par do Reino» – e na sua impaciência saltou da mesa, travou do braço do Ega, arrastando-o para um canto:
     – Então que é?   
     – É isto, em quatro palavras. O Carlos da Maia foi ofendido aí por um sujeito muito conhecido. Nada de interessante. Um parágrafo imundo na «Corneta do Diabo», por uma questão de cavalos… O Maia pediu-lhe explicações. O outro deu-as, chatas, medonhas, numa carta que quero que vocês publiquem.
     A curiosidade do Neves flamejou:
     – Quem é?
     – O Dâmaso.
     O Neves recuou de assombro:
     – O Dâmaso!? Ora essa! Isso é extraordinário! Ainda esta tarde jantei com ele! Que diz a carta?
     – Tudo. Pede perdão, declara que estava bêbado, que é de profissão um bêbado…
     O Neves agitou as mãos com indignação:
     – E tu querias que eu publicasse isso, homem? O Dâmaso, nosso amigo político!... E que não fosse, não é questão de partido, é de decência! Eu faço lá isso!... Se fosse uma ata de duelo, uma coisa honrosa, explicações dignas… Mas uma carta em que um homem se declara bêbado! Tu estás a mangar!
     Ega, já furioso, franzia a testa. Mas o Neves, com todo o sangue na face, teve ainda uma revolta àquela ideia de o Dâmaso se declarar bêbado!
     – Isso não pode ser! É absurdo! Aí há história… Deixa ver a carta.
     E, mal relanceara os olhos ao papel, à larga assinatura floreada, rompeu num alarido:
     – Isto não é o Dâmaso nem é letra do Dâmaso!... Salcede! Quem diabo é Salcede? Nunca foi o meu Dâmaso!   
     – É o meu Dâmaso – disse o Ega. – O Dâmaso Salcede, um gordo…
     O outro atirou os braços ao ar:
     – O meu é o Guedes, homem, o Dâmaso Guedes! Não há outro! Que diabo, quando se diz o Dâmaso é o Guedes!...
     Respirou com alívio:
     – Irra, que me assustaste! Olha agora neste momento, com estas coisas de Ministério, uma carta dessas escrita pelo Guedes… Se é o Salcede, bem, acabou-se! Espera lá… Não é um gordalhufo, um janota que tem uma propriedade em Sintra? Isso! Um maganão que nos entalou na eleição passada, fez gastar ao Silvério mais de trezentos mil réis… Perfeitamente, às ordens… Ó Parreirinha, olhe aqui o sr. Ega. Tem aí uma carta para sair amanhã, na primeira página, tipo largo…
     O sr. Parreirinha lembrou o artigo do sr. Vieira da Costa sobre a reforma das pautas.
     – Vai depois! – gritou o Neves. – As questões de honra antes de tudo!

Documentando as tuas afirmações com passagens do texto, responde ao seguinte questionário: 

1)      Identifica o episódio transcrito e localiza-o na ação da obra. 
2)      Tendo em conta o período literário em que se insere a obra, analisa a função deste episódio. 
3)       Caracteriza a personagem Neves e estabelece um paralelo com Palma Cavalão. 
4)      « […] discursando a alguns cavalheiros de província que o escutavam de pé, num respeito  de crentes.»
Qual é a figura de estilo que, ao nível semântico, se realiza nesta passagem? Qual é a sua função no que se prende com a representação social?  
5)       Identificando o artifício teatral que se realiza nesta passagem, que tem a ver com a diferença de saberes dos interlocutores, comenta a sua função na mensagem deste episódio.


Cenários de resposta 
                                               ( Madalena Novais e Tiago Jerónimo)

1. A passagem transcrita pertence ao episódio do jornal “A Tarde” (“Era a redação d’ «A Tarde» ”), que se encontra no capítulo XV d’ Os Maias e faz parte da crónica de costumes. Antes deste episódio, Dâmaso fez publicar no jornal “A Corneta do Diabo”, cujo diretor é Palma Cavalão, um artigo onde insultava Carlos e expunha a sua relação amorosa com Maria Eduarda. João da Ega, ao saber desta publicação, informa Carlos; os dois encontraram-se com Palma para descobrirem o autor (Dâmaso). Assim, depois de o terem obrigado a escrever uma carta de pedido de desculpas a Carlos, declarando que estava bêbado, Ega publicou-a no jornal “A Tarde”.
            Imediatamente antes, porém, de Ega se ter deslocado ao jornal “A Tarde” com o objetivo de publicar a carta de Carlos, ele viu a antiga amante, Raquel Cohen, na companhia de Dâmaso Salcede, no teatro Ginásio, o que veio provocar o seu ciúme e a sua ira, razões imediatas da decisão do amigo de Carlos de publicar a mesma carta.

2. Esta obra insere-se no período literário em que o Ultrarromantismo está em decadência e o Realismo e o Naturalismo são valorizados. Os Maias pretendem criticar os vícios da sociedade lisboeta da segunda metade do século XIX. Este episódio, em particular, tem a função de realçar a parcialidade, os subornos, a corrupção e a incompetência dos jornalistas da época e o seu compadrio com a política.
            O Realismo defendia uma literatura com uma função crítica e morigeradora dos males da sociedade, o que Eça faz relativamente à vida social de Lisboa da segunda metade de oitocentos.
            Neste episódio, o jornalismo português é criticado pela falta de deontologia do redator d’ “A Tarde” (“[…] Se é o Salcede, bem, acabou-se! Espera lá… Não é o gordalhufo, um janota que tem propriedade em Sintra?”), jornal este que é uma extensão política do partido de Neves: “[…] discursando a alguns cavalheiros de província que o escutavam de pé, num respeito de crentes.”. Assim, denuncia igualmente a macrocefalia da capital relativamente à província.  

3. Neves, “deputado, político”, é o diretor do jornal “A Tarde”. Tem um ascendente político sobre correligionários da província (“[…] discursando a alguns cavalheiros de província que o escutavam de pé, num respeito de crentes.”) e é uma personagem que representa o jornalismo partidário que só publica o que interessa à cor política dos seus proprietários e correlegionários.
Quando Ega lhe pede para publicar a carta de Dâmaso a pedir desculpa a Carlos, Neves mostra-se parcial por pensar estarem a falar de Dâmaso Guedes, seu amigo político, a quem não queria ofender. Após perceber que Ega e Carlos falavam de Dâmaso Salcede, aceitou publicar a carta e aproveitou-a para se vingar politicamente (“- Isto não é o Dâmaso nem é letra do Dâmaso!... Salcede! Quem diabo é Salcede? Nunca foi meu Dâmaso! […] Se é o Salcede, bem, acabou-se!”).
            Palma Cavalão, diretor do jornal “ A Corneta do Diabo”, tem o único objetivo de lucrar com o jornalismo nem que seja através de subornos, sem se preocupar com quem possa prejudicar. Representa o jornalismo reles, escandaloso e corrupto, mas, também, a falta deontologia e de serviço público no jornalismo. 
Assim, podemos concluir que tanto Palma com Neves representam o meio jornalístico em decadência.

4. A figura de estilo que, ao nível semântico, se realiza nesta passagem é a ironia. Eça de Queirós pretende ridicularizar a tão grande importância que os “cavalheiros de província” davam às altas posições sociais na capital. Nesta passagem, Neves aproveita a sua posição influenciando politicamente os seus ouvintes ignorantes, que o respeitavam e o ouviam atentamente: “[…] cavalheiros de província […], num respeito de crentes.”. Eça denuncia, assim, a macrocefalia da capital relativamente ao resto do país.

5. O artifício teatral que se realiza nesta passagem é o qui pro quo, que consiste num equívoco pela diferença de saberes. Isto acontece quando Neves pensa que Ega está a falar de Dâmaso Guedes. O equívoco é destruído quando Neves percebe que, na verdade, ele está a referir-se a Dâmaso Salcede (“- O Dâmaso!? Ora essa! Isso é extraordinário! Ainda esta tarde jantei com ele! Que diz a carta? […] Isso não pode ser! É absurdo! Aí há história… […]”).
Com este artifício, cria-se tensão nas personagens e no leitor, concorrendo, assim, para o interesse em conhecermos a razão da recusa e o aumento do interesse da leitura.

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