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Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


A possibilidade de os leitores e autores deixarem comentários, de forma sequencial e interativa, corresponde à natureza essencial dos blogues
e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


Colabore nos Projetos "Autor do Mês..." (Para saber como colaborar deverá ler a mensagem de 20 de fevereiro de 2009) e "Leituras Soltas..."
(Leia a mensagem de 10 de abril de 2009).


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BlogBESSS e as indicações de "Como Comentar.." nas mensagens de 10 de fevereiro de 2009.


A Biblioteca Escolar da ESSS

PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Sermão de S. António aos Peixes: um caso de literatura de combate


No
No Sermão de Santo António aos Peixes, o orador privilegia, de facto, a vertente de combate de ideias, que se inscrevem numa grande variedade de domínios, que acabarão por refletir o pensamento de grande homem do mundo que foi o Padre António Vieira.

No capítulo I, o exórdio, o Padre António Vieira começa por utilizar um conceito predicável (“Vos estis sal terrae”: “Vós sois o sal da terra”) que, alicerçado na autoridade de S. Mateus, nos permitirá concluir que Vieira defende que os homens não querem receber a verdadeira doutrina (“ não se deixam salgar”). Para reforçar esta atitude dos homens e os seus defeitos, Vieira recorre à figura da antítese entre peixes e homens ao longo dos capítulos II e III. Deve fazer-se notar, ainda, a referência ao Santo António, que, em muitos casos por analogia com os peixes, é o exemplo a ser seguido pelo auditório.

No capítulo II, inicia-se a construção de uma estrutura alegórica e a Divisão do sermão: primeiro, serão pregados os louvores dos peixes e, seguidamente, os seus defeitos. Ainda neste capítulo, dá-se a Confirmação, expondo-se as qualidades gerais dos peixes. Temos então as divinas – obediência, ordem, quietação e atenção (“[…] aquela obediência […] e aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus […]”) – e as naturais – não se deixam domesticar pelo homem, ao contrário de outros animais (“[…] Falando dos peixes, Aristóteles diz que só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam […]”). Ocorre, então, a antítese entre peixes e homens, em que os peixes assumem um valor positivo.

No terceiro capítulo, o Padre António Vieira evoca as qualidades particulares de quatro peixes: o Peixe de Tobias, cujo fel cura a cegueira do pai e cujo coração afasta o demónio da casa (sentido literal) – também Santo António, com o fel, cura a cegueira dos homens e utiliza o coração para afugentar o mal humano (sentido figurado) –; a Rémora, que se pega ao leme da nau e a amarra (sentido literal) – também a língua de Santo António domou a fúria das paixões humanas: Soberba, Vingança, Cobiça e Sensualidade (sentido figurado) –; o Torpedo, que faz tremer o braço do pescador, impedindo-o de pescar (sentido literal) – Santo António fez tremer vinte e dois pescadores que ouviram a suas palavras e se converteram (sentido figurado); e o Quatro-olhos, que se defende dos peixes e das aves (sentido literal). Este é, para além disso, o peixe que ensinou o pregador a olhar para o Céu (para cima) e para o Inferno (para baixo).

No capítulo IV, é iniciada a repreensão aos peixes com os seus defeitos gerais: comem-se uns aos outros, mesmo sendo do mesmo elemento, da mesma pátria, da mesma cidade (“[…]da mesma natureza, que, sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! […]”); e são ignorantes e cegos ao ponto de se deixarem explorar. Neste capítulo os peixes assumem o valor negativo antes pertencente apenas aos homens (“[…] Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes, que também os homens se comem vivos assim como vós […]”), pelo que o recurso estruturante é a analogia e já não a antítese.

De seguida, inicia-se a repreensão aos peixes relacionada com os seus defeitos particulares e Vieira refere-se a outros quatro peixes: os roncadores, que têm como defeitos a arrogância e o orgulho (“[…] É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?![…}”) , traços que se reatualizam, ao nível do homem, com Pedro, Golias, Caifás e Pilatos; os pegadores, devido ao facto de serem parasitas (“[…] sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas tal sorte se lhes pagam aos costados, que jamais os desferram […]”), características que se reatualizam em toda a família da corte de Herodes e em Adão e Eva; os voadores, que são presunçosos, ambiciosos e caprichosos (“[…] matai-vos a vossa presunção e o vosso capricho […] Grande ambição é que […] queira outro elemento mais largo […]”), aspetos que se reatualizam em Simão mago; e o polvo devido à sua hipocrisia e traição (“ […] o dito Polvo é o maior traidor do mar […]”), ultrapassando Judas enquanto símbolo.

Por fim, no capítulo VI, dá-se a peroração em que Vieira louva Deus como reforço da crítica e afirma que o sermão não irá acabar em Graça e Glória porque o auditório – homens ao nível da comunicação, entenda-se – não é detentor de tais qualidades.

Em síntese, podemos concluir que o Sermão de Santo António aos Peixes tem, de facto, uma vertente de combate de ideias pela crítica que é feita aos homens e aos seus comportamentos. Para a efetivação dessa mesma crítica, o orador recorre à alegoria e a analogias ao longo de todo o sermão. Os signos que se produzem no texto configuram-se com um significado coerente ao nível da comunicação, que é dirigida aos interlocutores habilitados a descodificar a denúncia e os objetivos edificantes que serviram de exemplo para os homens, que “se não deixam salgar”. O Padre António Vieira tem, então, como fim da pregação do sermão a mudança de comportamentos, podendo, de facto, afirmar-se que o seu discurso, ultrapassando a simples evangelização no sentido mais religioso, privilegia a vertente de combate de ideias.

Prof. João Morais

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