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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Divergência entre Fernando Pessoa ortónimo e Álvaro de Campos

  
     Trabalho realizado por Joana Menezes, Nº17, 12º A, 2010/11
                                             Prof. João Morais 
                 
«No íntimo, a divergência [entre Pessoa ortónimo e Campos] é mais temperamental, e daí estilística, do que de opiniões e preocupações.»
Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa

Fernando Pessoa ortónimo e Álvaro de Campos têm aspectos de unidade, como as opiniões e preocupações, e aspectos de diversidade, como a estilística, que é influenciada pelos diferentes temperamentos.
Atendendo à questão do enigma do ser, presente no poema «Viajar! Perder Países!», Pessoa ortónimo faz uma viagem permanente na procura e na descoberta do eu, que é sempre outro e não tem amarras a nada, nem a si mesmo.
Este aspecto está também presente na poética de Álvaro de Campos, ainda que com uma configuração futurista, no poema «Ode Triunfal»: «Ser completo como uma máquina!». Esta passagem remete para a procura do eu absoluto através do triunfo da civilização contemporânea, que se vai constituir num sentimento de realização para o sujeito lírico: a máquina é o que há de mais perfeito e mais completo, desejando ele configurar-se com esses mecanismos em fúria. O sujeito poético olha, assim, para si mesmo e não para a sua realidade ontológica como o ortónimo e o próprio Campos, que se apresentará mais tarde com uma face mais intimista.
Ainda um aspecto que aproxima Fernando Pessoa ortónimo e Álvaro de Campos é a dor de pensar.

Para Pessoa os seus pensamentos são um obstáculo para a felicidade, pelo que ele deseja realizar o paradoxo de ter uma consciência inconsciente, podendo ser ele mesmo e sentir as suas emoções e sensações. No poema «Ela canta, pobre ceifeira», Pessoa anseia possuir a inconsciência da pobre ceifeira («Entrai por mim dentro»), pois ela, como não sabe verbalizar a realidade, não tem consciência dela própria nem sabe dar nome aos seus estados de alma, pelo que se julga talvez feliz («De alegre e anónima viuvez»).
Paralelamente ao ortónimo, Campos, por vezes, desvaloriza o pensamento em favor das emoções, o que está patente também no poema «Ode Triunfal», onde se reactualiza um excesso de sensações, um registo de exaltação emocional. Enfatiza os seus versos com onomatopeias («r-r-r-r-r-r»), sensações concomitantemente gustativas e auditivas («Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos»), personificações («Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!»), apóstrofes («Ó rodas, ó engrenagens»), exclamações («Forte espasmo retido dos maquinismos em fuga»), e outros versos que remetem para o campo lexical do excesso e da força. Este poema vai, deste modo, ilustrar a face futurista e sensacionista de Campos.
Outro poema onde Álvaro de Campos explora este mesmo tema é «Lisbon revisited (1923)». O poeta evoca a infância como momento de felicidade, que antecede a dor de pensar e a consciência. Campos irá, deste modo, rever a Lisboa da sua infância sem a poder reencontrar com a mesma configuração de outrora. A cidade está perdida para sempre, não sendo ele capaz de a recuperar – e de se recuperar a ele próprio. É como se nenhuma memória lhe pudesse devolver o passado («Ó céu azul – o mesmo da minha infância - | Eterna verdade vazia e perfeita!»). Como em «Ela canta, pobre ceifeira», do ortónimo, a revisita de Campos a Lisboa irá também ilustrar a sua face pessimista: o poeta está cansado e rejeita as ciências e a civilização moderna, reclamando o direito à solidão e à indiferença («Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo| E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!»).
No poema «Dactilografia», de Campos, está presente a oposição entre a infância, enquanto tempo eufórico, e a idade adulta, enquanto tempo disfórico, antinomia também recorrente no ortónimo.
Tanto no poema «O Menino da sua mãe», de Pessoa ortónimo, como em «Dactilografia», a infância é o passado irremediavelmente perdido: havia a felicidade sem eles o saberem e, por isso, ainda não tinham iniciado a procura de si mesmos, que posteriormente os levará à fragmentação e ao tédio.
Nestes poemas também há a oposição entre o eu-outrora e o eu-agora, sendo o passado representado por uma felicidade inconsciente e um tempo de alegria, e o presente, pela experiência do tédio, da nostalgia, da inquietação e pelo desconhecimento de si mesmo e do futuro.
Em «Dactilografia» podemos observar uma acumulação de palavras que se relacionam com a escrita – o que é bastante recorrente em toda a poética pessoana. Constrói-se, assim, um campo lexical muito produtivo em Fernando Pessoa, quer no ortónimo, quer nos heterónimos. Palavras como: «Traço», «plano» e «projecto» pressupõem uma elaboração mental, o exercício do pensar, e concorrem para a construção de uma dualidade: por um lado, o plano interior, que está no presente e na primeira estrofe, e que valoriza o pensar, na medida em que o emissor recorre à memória para se relembrar da infância e da felicidade e se ausentar da realidade e do tédio; e, por outro lado, o plano exterior, que irá desvalorizar as sensações auditivas, nomeadamente o «tic-tac» das máquinas de escrever, que o distrairá e o conduzirá à realidade e ao presente.
Esta dualidade irá reforçar o contraste entre o interior (eu) e o exterior (máquinas).
Em «O Menino da sua mãe» está em causa um herói que é uma vítima trágica do destino («malhas»), pois dá-se a morte da sua infância quando este entra na idade adulta – e na guerra – e, em consequência disso, a sua morte.
Para Pessoa ortónimo e Campos, a idade adulta tem o mesmo significado: a infelicidade.
É no poema «Quando as crianças brincam» que o ortónimo evidencia a sua melancolia e a sua nostalgia de não saber quem é e a incapacidade de não conseguir sentir sem pensar, tal como as crianças, que lhe relembram a infância e o sonho.
Para Campos a idade adulta é a realidade, tempo e lugar nos quais a sua alma por acaso se fragmentou: «Sorriem tolerantes à criada involuntária» in «Apontamento». Neste poema o eu será comparado a um vaso vazio, que se parte e se fragmenta em níveis muito elevados («Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso»), sendo, por isso, impossível alcançar a felicidade e o seu autoconhecimento.
Relativamente às divergências entre a poética de Pessoa ortónimo e a de Álvaro de Campos atentemos nos seus estilos.
O do ortónimo é caracterizado pela regularidade, aos níveis do isomorfismo, do isometrismo e do esquema rimático. Contrariamente ao ortónimo, Campos opta pelo verso livre e longo, que enfatiza a poética do excesso, e não respeita os códigos instituídos, fazendo com que Campos reclame a liberdade levada ao extremo, através de repetições («Outrora [],|Outrora [] |Outrora.» in «Dactilografia»), anáforas («Que [] |Que [] |Que [in «Dactilografia»), exclamações («Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!» in «Ode Triunfal»), interjeições («Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime» in «Ode Triunfal»), comparações («A minha alma partiu-se como um vaso vazio» in «Apontamento»), metáforas inesperadas («A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?| Um caco.» in «Apontamento»), paradoxos («Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!» in «Lisbon revisited (1923)») e onomatopeias («r-r-r-r-r-r-r eterno!» in «Ode Triunfal»).
Em suma, Fernando Pessoa ortónimo e Álvaro de Campos irão partilhar opiniões e preocupações relativas à fragmentação, à dor de pensar, à infância perdida e à sua nostalgia.
Todavia como já foi dito, também se institui um amplo espectro de diversidade entre estes dois poetas, que é evidenciado pela estilística dos poemas como consequência dos seus distintos temperamentos.
A meu ver, o Modernismo veio impulsionar este desdobramento da personalidade em Fernando Pessoa, que o conduz à fragmentação e à criação de múltiplos seres, e que, consequentemente, conduz à contínua procura do seu autoconhecimento. E este processo não terá fim pelo que continuarão a aparecer várias vozes a fazer ecoar esse drama em pessoa ou essa polifonia mais ou menos (des)concertada.

Editado e organizado por José Fernandes Rodriguez

3 comentários:

  1. Bravo, Joana!
    Encorajo-te a trabalhar com a seriedade que tens mostrado até agora.
    João MOrais

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  2. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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