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e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


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2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


sábado, 11 de dezembro de 2010

“Apontamentos para uma Estética Não Aristotélica”, de Álvaro de Campos - Síntese Documentada


Trabalho realizado por João Filipe Afonso, Nº13, 12º B, 2010/11
Prof. João Morais

SÍNTESE DOCUMENTADA DO TEXTO “APONTAMENTOS PARA UMA ESTÉTICA NÃO ARISTOTÉLICA”, de ÁLVARO DE CAMPOS (publicado in Athena, nº 3 e 4, Lisboa Dez.-Jan. 1924-25.)

A estética aristotélica defende que o objectivo final da arte é a beleza, podendo, no entanto, existirem diferentes caminhos para se atingir esse objectivo.
Álvaro de Campos afirma que a estética é uma arte, que, para assim ser considerada, terá de se basear não numa ideia de beleza, mas sim numa ideia de força e energia, que surgem em consequência da vida, pois é produzida pelos seres vivos através da intensidade e do equilíbrio entre duas forças de interacção e integração. Estas dão vida à arte através de uma acção e de uma reacção baseadas na sensibilidade, isto é, a arte é realizada por se sentir e para se sentir.
“Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados”. vv. 1-2 in Passagem das horas.

“Multipliquei-me para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo”. vv. 41-42 in Passagem das horas.
Para Álvaro de Campos a estética aristotélica defende que, tal como a ciência, a arte parte do particular para o geral, quando na realidade o que acontece é que arte e ciência são fenómenos opostos, logo o correcto será a arte partir do geral para o particular e o exterior tornar-se interior, contrariamente à estética aristotélica, que pretende que os artistas generalizem ou humanizem a sua sensibilidade.
“Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos”. v. 4 in Passagem das horas.  

“Passa tudo, todas as cousas num desfile por mim dentro,
E todas a cidades do mundo rumorejam-se dentro de mim”. v. 69 in Passagem das horas.
Para o autor, a arte é um fenómeno social que, para ser atingida, obriga ao equilíbrio e à coexistência de dois sentimentos que o homem possui e que o fazem assumir uma forma de vida social sã: o espírito gregário, que se traduz na igualdade entre os homens, e o espírito individualista ou separatista, que os afasta. Importa ainda analisar as duas formas que o espírito antigregário ou separativo podem assumir: o isolamento (afastamento dos outros) e o domínio. Se considerarmos o domínio uma forma social contrária ao isolamento, poderemos então concluir que arte implica um esforço para dominar os outros.
“Não me subordino senão por atavismo”. v. 246 in Passagem das horas.

“Sinta na cabeça a velocidade do gira da terra,
e todos os paizes e todas as pessoas giram dentro de mim”. vv. 309-310 in Passagem das horas.

“Sou eu me bato, que me trespasso, que me ultrapasso!
A raiva de todos os ímpetos fecha circulo –mim!”. vv. 391-392 in Passagem das horas.

“Eu, a paysagem por detraz d’isto tudo, a paz citadina[…]
Eu, tudo isto, e além d’isso o resto do mundo...”. vv. 35-36 in Passagem das horas.
Os processos a destacar para atingir o domínio são a captação e a subjugação, que se manifestam em diferentes actividades como na política, na religião e na arte. Por exemplo, na política existe a democracia – a política de captação – e a ditadura – a política de subjugação. Na arte, tal como na política, existe a arte que domina captando, característica da estética aristotélica que se baseia na ideia de beleza, na inteligência, mais concretamente na subordinação da sensibilidade à inteligência para que aquela seja humana e universal, agradável e acessível para poder captar os outros, na unidade artificial e visível como a de uma máquina:
“Cavalgada de mim por dentro do carvão que se queima, da lampada que arde” v. 339. in Ode Triunfal.
            Por outro lado, a arte em que o autor acredita e que defende é aquela que domina subjugando, baseando-se na ideia de força, na sensibilidade, que é particular e pessoal porque, se assim o não fosse, em vez de dominarmos, seríamos dominados.
            Contrariamente à arte aristotélica, Álvaro de Campos apoia-se na unidade espontânea, natural, sensorial, mas que nunca é visível, subordinando tudo a uma sensibilidade abstracta como a inteligência, forçando os outros, quer queiram quer não, a sentir aquilo que ele sentiu, ou seja, dominando-os pela força inexplicável, tal como o ditador espontâneo subjuga o povo fraco.
”Seja uma flor ou uma ideia abstracta”. v. 9. in A passagem das horas.

”Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti”. v. 103 in Passagem das horas.

”Tenho a fúria de ser raiz”. vv -  280. in A passagem das horas.
”Faz-me levantar-me mil vezes e dirigir-me para Abstracto,”. v. 314 in Passagem das horas.

”Hup-la por cima das árvores, hup-la por baixo dos tanques/ […]”. vv. 332-336 in Passagem das horas.
”Assim como não gosto da vida, mas gosto de sentil-a…”. v. 95 in Passagem das horas.

Para Álvaro de Campos existem os artistas aristotélicos falsos e os verdadeiros; e os não aristotélicos verdadeiros, por um lado, e os simuladores, por outro lado: não é a teoria que faz o artista, mas sim o facto de se ter nascido artista.
”O binómio de Newton é tão belo como a Venus de Milo
O que há é pouca gente para dar por isso.” vv. 1-2  in Poema 115 [69 – II.]
A arte dos gregos retrata correctamente a teoria estética não aristotélica da arte baseada na força e na vitalidade, pelo facto de a beleza, a harmonia não serem conceitos provenientes da inteligência, mas disposições íntimas da sensibilidade. Os artistas gregos emitiam sensibilidade sobre tudo o que realizavam, contrariamente ao que acontece com a sensibilidade mais próxima de nós, alterada e adulterada pelas diferentes forças sociais, nomeadamente pelos romanos e franceses, que não permitiram que recebêssemos essa emissão de sensibilidade e emoção estética a não ser através do uso da inteligência.

Para o autor existem ainda mais restrições àquilo que desejamos chamar e considerar arte, pois uma simples ideia intelectual de beleza não habilita o artista a criar beleza: só a sensibilidade a cria e emite, da mesma forma que a mesma simples ideia intelectual de força pode não estar habilitada a criar a força que pretende criar, não passando de uma simulação da arte da força que acaba por não criar nada. Alguns artistas fazem arte não aristotélica falsa, porque não prescindem da arte aristotélica: realizam espontaneamente e exclusivamente má arte aristotélica, dado que a realizam com o recurso à inteligência e não com a sensibilidade.
”Estou cansado da intilligencia
Pensar faz mal às emoções
Uma grande reacção aparece.” vv.1-3 in Poema 43 [7I – I6].
Para Álvaro de Campos e até à sua actualidade existiram apenas três verdadeiras manifestações de arte não aristotélica: os poemas de Walt Whitman, as do mestre Caeiro e as suas próprias odes – por exemplo a “Ode Triunfal” e a “Ode Marítima”.

            “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.” v. 19 in Poema segundo – O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro.

            “O rebanho é os meus pensamentos,
            E os meus pensamentos são todos sensações.” vv. 2-3 in Poema nono – O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro.

            “Uma hora para a loucura e a alegria! Ó furiosos! Oh, não me confinem.
            (O que é isto que me liberta assim nas tempestades?
            Que significam meus gritos em meio aos relâmpagos e aos ventos rugidores?)” vv 1-3 in Uma hora para a loucura e alegria, de Walt Whitman.

COMENTÁRIO FINAL
Pelo que ficou exposto, a obra de Álvaro de Campos apresenta uma face futurista sensacionista, defendendo uma estética não aristotélica baseada não na beleza, nos meros sentimentos e na inteligência, mas sim numa poesia triunfal, enérgica, carregada de emotividade e baseada na ideia de força individual, que se manifesta na vida subjugando os outros sem procurar captá-los pela razão. O poeta manifesta uma predilecção pela beleza feroz – “A maravilhosa belesa das corrupções políticas,” vv - 73. in Ode Triunfal – que simboliza a força da vida e da civilização industrial da época, contrariando a concepção aristotélica de beleza e realizando assim uma arte vigorosa.
“Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída” vv. 134-135. in Ode Triunfal,
O poeta procura ainda a totalização das sensações, conforme as sente ou pensa, ou seja, como poeta sensacionista, a única realidade são as sensações, expressando-as com uma energia explosiva, procurando sempre sentir a violência e a força dessas sensações:“sentir tudo de todas as maneiras”.

Será uma forma de escamotear a fragilidade ontológica de Fernando Pessoa?
Atentemos, a esse título, uma passagem da “Ode Triunfal”: na voragem e na força voluptuosa da máquina e do movimento emerge a “[…] infância [que] era outra coisa / Do que eu sou hoje…” vv. 189-90.

Registos Bibliográficos:
Os textos foram retirados da edição crítica de Cleonice Berardinelli: 
Fernando Pessoa, Poemas de Álvaro de Campos, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1990.

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