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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


sábado, 1 de maio de 2010

Estudo Ilustrado das Personagens de "Felizmente há Luar!" - 3ª parte

                                                                     
A Obra
Acto I
Este Acto começa com uma cena colectiva. Do grupo do povo são destacados Manuel, Rita, dois populares, uma velha e Vicente. A troca de ideias (conversa ) entre estas personagens cai sobre a miséria em que vivem e o sentimento de impotência, Manuel chega a questionar-se “Que posso eu fazer?”. A sensação auditiva produzida pelos tambores, que se escuta a uma grande distância, gera com que os populares deêm início a um murmurar sobre Gomes Freire de Andrade− “Um amigo do povo! Um homem às direitas!” . Todos prestam culto a Gomes Freire, fora Vicente, que arruína a imagem do General como indíciduo que não tem defeitos, falhas ou erros. A sua fala oratória é cheia de sarcasmo, fazendo um esforço para se aparentar aos que escutam que o General de modo nenhum é desigual aos outros poderosos, uma vez que “O que há é homens e generais”.
Naquele meio tempo, o povo espalha-se com a vinda de dois policias que vêm colher informações e que se aproximam de Vicente. O diálogo entre três personagens mostra-nos, progressivamente, que Vicente encaminha a sua vida em função do dinheiro e do poder − “Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força”. Por isso, não tem pruridos em afirmar que vende os seus “irmãos” porque eles lhe fazem trazer à memória a fome e a miséria em que veio ao mundo− “... sempre que olho para eles me vejo a mim próprio: sujo, condenado à miséria por acidente de nascimento”. Este “acidente” determina revolta pela sua condição.−“ A única coisa que me distingue dum fidalgo é uma coisa que se passou há muitos anos e de nem sequer tive a culpa: o meu nascimento”. Comesta sinceridade, os dois polícias divulgam a Vicente que o governador do reino, D.Miguel Pereira Forjaz, lhe quer exprimir por palavras, possivelmente, a atribuição de “uma missão especial”. Vicente já se idealiza como chefe de polícia e, face ao comentário do primeiro polícia de que, tendo sido “os portadores da boa nova”, poderiam ser recompensados, lembra a arrogância dos poderosos, mesmo quando a sua fonte é modesta.
Vicente é levado à presença de D. Miguel e do Principal Sousa pelos polícias. Ao ser interrogado por D. Miguel acerca da eventual existência de um agitador político junto do povo, supõe, dando alguns esclarecimentos dispersos. D.Miguel acaba de lhe entregar um encargo: estar de sentinela pela casa do seu primo, o general Gomes Freire de Andrade, para os lados do Rato.
D.Miguel acaba de lhe entregaruma missão: estar de sentinela pela casa do seu primo, o General Gomes Freire de Andrade, para os lados do Rato. Vicente sai e os “três reis do Rossio”, D.Miguel, o principal Sousa e o Marechal Beresford, militar inglês, dialogam sobre o estado da nação, o perido das novas ideias subversivas que destruirão o país e o “reino de Deus”. Chegam, então, à conclusão de que é necessário encontrar um nome, açguém que possa ser acusar de ser o responsável pelo clima de insurreição que alastra pelo país. Andrade Corvo e Morais Sarmento, antigos companheiros do General e actuais delatores, apresentam-se diante dos governadores, dando-lhes conta dos resultados das suas investigações, em troca de “algo mais substancial”.
Novamente sós, os três governadores dialogam sobre o castigo a aplicar a quem ousa ser inimigo do reino, tomando forma a ironia de Beresford que, sem inibições, desprestigia aos Portugueses e assume despudoradamente a sua sobranceria e o seu interesse meramente económico− “Pretendo uma única coisa de vós: que me pagueis- e bem!”. De modo pragmático Beresford afirma que troca os seus serviços (a reorganização do exército) por dinheiro. O principal Sousa reconhece que a atitude do marechal lhe desagrada, mas que precisa dele para encontrar “o chefe da conjura”.
Andrade Corvo, Morais Sarmento e Vicente entram rotativamente em cena, dando conta das suas diligências, inicialmente pouco consistentes, mas acabam por se concretizar na indicação de um nome, o do General Gomes Freire de Andrade. Está encontrada a vitíma e só resta a “Morte ao traidor Gomes Freire d’Andrade”.


 Acto II
À semelhançaça do primeiro, o acto II, começa com uma cena colectiva. Manuel dá a conhecer o seu sentimento de impotência face à prisão do General e reconhece que a situação de miséria em que vivem é ainda mais desesperante− “E ficamos pior do que estávamos... Se tínhamos fome e esperança, ficámos só com fome...”. Os outros populares acompanham-no no seu desalento, até uma nova intervenção policial, que dispersa o grupo.
A mulher de Manuel, Rita , demonstra a sua compaixão relativamente a Matilde (mulher do general), pois tinha a ouvido chorar após a morte do seu homem, e implora a Manuel para nao se meter “nestas coisas”.
Matilde surge, proferindo um discurso solitário, em que relembra os momentos de intimidade vividos com o seu General e ironiza dizendo que, se o seu filho ainda fosse vivo, lhe ensinaria a ser cobarde e “a cuidar mais do fato que da consciência e da bolsa do que da alma”.
Sousa Falcão, “amigo inseparável de Matilde e de Gomes Freire”, surge diante de Matilde, confessando o seu desânimo e desencanto face ao país em que vive− “O Deus deste reino é um fidalgo respeitável que trata como amigo a Pôncio Pilatos (...) Vive num solar brasonado e dá esmolas, ao domingo, por amor de Deus”. Sousa Falcão despede-se de Matilde e parte em busca de notícias do amigo, deixando Matilde, dolorosamente triste, mas com vontade de enfrentar o poder.− “Vou enfrentá-los. É o que ele (o general) faria se aqui estivesse”.
Diante de Beresford, que aproveita a situação para humilhar a mulher do General, Matilde implora a sua libertação− “Quero o meu homem! Quero o meu homem, aqui ao meu lado!”, sem qualquer fruto.
Matilde, fora de si, aproxima-se dos populares, que, indiferentes à sua presença, evocam Vicente, agora feito chefe da polícia. No entanto Manuel e Rita, após momentos de recriminação a Matilde, de que a oferta de uma moeda como esmola é símbolo, manifestam-lhe a sua solidariedade moral− “Não a podemos ajudar, senhora. Deus não nos deu nozes e os homens tiraram-nos os dentes...”.
Sousa Falcão reencontra-se com Matilde e revela-lhe que ninguém pode ver o General, já encarcerado numa masmorra sombria em S. Julião da Barra, sem direito a julgamento. Matilde, inconformada, recorda, então, a saia verde que o General um dia lhe oferecera em Paris e, como que recuperada do seu desgosto, decide enfrentar uma vez mais o poder. O seu objectivo é exigir um julgamento e, para isso, dirige-se ao principal Sousa, desmontando a mensagem evangélica, para lhe mostrar quanto o seu comportamento é contrário aos ensinamentos de Cristo− “Como governador, já perdoou a Cristo a que Ele foi e o que Ele ensinou?”. Frei Diogo, frade jerónimo, interrompe o diálogo dos dois, anunciano que estivera com o General Gomes Freire para o confessar e tenta acalmar o desespero e a revolta de Matilde− “Haja o que houver, não julgue a Deus pelos homens que falam em Seu nome. (...) Não faça a Deus o que os homens fizeram ao general Gomes Freire: não O julgue sem O ouvir.” De forma arrogante, Matilde dirige as últimas palavras ao principal Sousa, amaldiçoando-o. Sousa Falcão anuncia que a execução do General e dos restantes prisioneiros está próxima. Matilde, em desespero, pede, uma vez mais, pela vida do General e D.Miguel Forjazinforma que a execução se prolongará pela noite, “mas felizmente há luar...“. Matilde inicia, então, um discurso de grande intensidade dramática: dirige-se a Deus, interpelando-O e lembrando-Lhe os seus ensinamentos− “Senhor: não pretendo ensinar-Te a ser Deus, mas, quando chegar a hora da sentença, não Te esqueças de que estes sabiam o que faziam!”. Os populares comentam a execução do General: recusaram-lhe o fuzilamento e vai ser queimado.
O acto termina com Sousa Falcão e Matilde em palco: o amigo do general elogia-o; Matilde despede-se do homem que amou− “Dá-me um beijo− o último na Terra− e vai! Saberei que lá chegaste quando ouvir os tambores!” , e lança palavras de coragem e ânimo ao povo− “Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira(...) felizmente há luar!”

A simbologia/ intencionalidade da obra
Título (Felizmente Há Luar!) /  
 Luar
A frase “Felizmente há luar” é proferida por duas personagens de "mundos" diferentes:
          D. Miguel, símbolo do Poder
          Matilde, símbolo da resistência
Assim, o luar é interpretado de duas maneiras diferentes:
           Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira atemorize todos aqueles que queiram lutar pela liberdade — efeito dissuasor. [Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada, Excelência, e o cheiro há-de-lhes ficar na memória durante muitos anos… Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens, lembrar-se-ão do cheiro (…)] - Acto II, pág. 131
           Para Matilde, o luar destaca a intensidade do fogo incitando aqueles que acreditam na mudança e na “luz da liberdade” (prenúncio da Revolução Liberal) —estimulando o povo a revoltar-se. [(Para o povo) Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim (…)] - Acto II, pág. 140
Saia Verde
Associada à felicidade (em vida), foi comprada em Paris (terra de liberdade), no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas.
A cor verde está relacionada com a esperança de que um dia se reponha a justiça, com a tranquilidade e com a felicidade do reencontro, embora numa outra dimensão, ou num futuro diferente (na morte).
Assim, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, Matilde comunica esperança aos outros, através desta peça de vestuário.

Luz/ Noite
A luz é a metáfora do conhecimento que permite o progresso da sociedade e a construção do futuro, assente na defesa dos valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, opostamente à noite, que representa escuridão, morte, repressão, obscurantismo, conspiração. Isto pode-se ver no acto II, pág. 116:
MATILDE
Obrigado, meu amigo. Obrigado por ma querer, mas não: nesta terra a esperança é uma palavra vã.
(Pausa)
Eu é que tenho de continuar como se a tivesse. Sou a mulher dele, António… e ele… é o meu homem.
Enquanto não nos matarem, aquele de nós que estiver livre tem de lutar.
SOUSA FALCÃO
Mas como, Matilde? Como é que se pode lutar contra a noite?
Lua
Representa dependência, periodicidade e renovação, por depender do Sol, por atravessar fases (ciclos lunares) e por mudar de forma. Simboliza também a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que está relacionado com a crença na vida depois da morte. Isto pode-se ver no Acto II, págs. 137-139, onde Matilde fala com o espírito do General Gomes de Freire.
A fogueira – o clarão
Para D. Miguel Forjaz representa o ensinamento ao povo enquanto para Matilde representa a chama que se mantém viva e a liberdade que há-de chegar.
O fogo é um elemento destruidor e, simultaneamente purificador e regenerador. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.
A moeda de cinco reis
A moeda aparece na obra em duas situações diferentes:
          Na primeira situação, Manuel diz a Rita que dê a moeda a Matilde e, logo a seguir, diz-lhe que não lha dê, mas Matilde acaba por ficar com a moeda a seu pedido, simbolizando a miséria, a pobreza do povo que mendiga pela sobrevivência, dignidade e pelo direito à vida e à liberdade. – Acto II, pág. 105-108.
          Na outra situação, no confronto entre o principal Sousa e Matilde, esta lança-lhe a moeda aos pés, traduzindo a traição, a corrupção e a submissão dos poderosos a interesses mesquinhos e materiais (contrariando os mandamentos de Deus). – Acto II, pág. 109-110.
Tambores
Símbolo da repressão militar e policial e a intimidante perseguição a que o povo era sujeito para não pôr em causa a autoridade dos governadores, «sempre presente e sempre pronta a intervir».


Grupos de Personagens
Os governadores do Reino
D. Miguel Pereira Forjaz – personalidade na História de Portugal
D. Miguel Pereira Forjaz (1769-1827) entrou para o exército, tendo chegado ao cargo de capitão--general. Apoiou Beresford na reorganização do exército português, embora assumindo posições cada vez mais críticas sobre a influência do general britânico. Abandonou o seu lugar na regência com a revolução de 1820, mas recebeu o título de Conde da Feira. É o representante da nobreza na regência, assumindo o papel mais relevante na acusação do General Gomes Freire. D. Miguel, ao acusar Gomes Freire, receia que este coloque o seu lugar na regência em causa, e que lhe tire a projecção a que está habituado.
    D. Miguel Pereira Forjaz – a personagem na ficção
D. Miguel Pereira Forjaz é primo de Gomes Freire de Andrade. Vive assustado com as transformações que não deseja. Pois se essas transformações acontecerem, D. Miguel será afastado da regência. Para além de ser vingativo, servil, frio, desumano e prepotente, também está corrompido pelo poder. Nas palavras de Sousa Falcão, D. Miguel “é a personificação da mediocridade consciente e rancorosa”. Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e demagógica, construindo verdades falsas. Os argumentos do "ardor patriótico", da construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político dos anos 60. É um pequeno tirano, avesso ao progresso e insensível à injustiça e à miséria. D. Miguel acaba por simbolizar a decadência do país que governa. Possui uma aversão pelo povo (“Não sou, e nunca serei, popular. Quem o for é meu inimigo pessoal.”).
Em relação às novas ideias liberais, D. Miguel afirma:
“Se não tomarmos as necessárias precauções, dentro em breve teremos a desordem nas ruas e a anarquia nas almas! (…) Não concebo a vida, Excelências, desde que o taberneiro da esquina possa discutir a opinião d’el-rei, nem me seria possível viver desde que a minha opinião valesse tanto como a de um arruaceiro.”
Principal Sousa - personalidade na História de Portugal
Principal Sousa fez parte da Regência do Reino até à Revolução Liberal de 1820, durante a ausência do Rei D. João VI. É o representante do clero na regência, acaba por reconhecer que Portugal precisava do regresso do rei, como o demonstra numa carta de 1817.

Principal Sousa – personagem na ficção
Principal Sousa é o representante do clero no Governo. É uma personagem corrompida pelo poder eclesiástico e fanática. Defende o obscurantismo do povo para que os tiranos governem livremente, afirmando mesmo que “Por essas aldeias fora é cada vez menor o número dos que frequentam as igrejas e cada vez maior o número dos que só pensam em aprender a ler …”. Odeia os franceses porque “transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de revoltados!”. Nas palavras do Principal Sousa é igualmente possível detectar os fundamentos da política do "orgulhosamente sós" dos anos 60.
Em relação às novas ideias liberais, Principal Sousa admite:
“Senhor Governador, tenho medo. Há dois dias que quase não durmo e mesmo, quando passo pelo sono, perseguem-me imagens terríveis: imagino-me réu perante um tribunal que me não respeita. Dedos imundos tocam-me nas vestes. (…) à minha volta os gritos do povo me não deixavam, sequer, ouvir a sentença…”

NOTA: D. Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas personagens mais execráveis de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam.

Marechal Beresford - personalidade na História de Portugal
General William Beresford (1768-1854) foi enviado pela Grã-Bretanha para, após a primeira invasão francesa, reorganizar o exército português, preparando-o para resistir às tropas napoleónicas. Na Madeira, para evitar a ocupação da ilha pelos franceses, foi governador e comandante-chefe. Submeteu o país a uma forte organização militar, tendo sido nomeado generalíssimo do exército português. À medida que os seus poderes aumentavam, colocava os oficiais britânicos nos mais altos postos, preterindo os portugueses. Rejeitava as novas ideias liberais e reprimia conspirações. Em 1817, mandou matar os conspiradores (entre eles o general Gomes Freire de Andrade), pois havia rumores de uma conspiração contra a presença inglesa. Três anos depois, deslocou-se ao Brasil para pedir mais poderes a D. João VI. Ao regressar, como marechal-general do exército português, já a Revolução Liberal (24 de Agosto de 1820) estava nas ruas. Foi obrigado a regressar directamente para Inglaterra.
Marechal Beresford – personagem na ficção
Beresford odeia Gomes Freire de Andrade, não porque o afronte enquanto oficial, mas porque o incomoda enquanto herói do povo. Ao assumir o processo de Gomes Freire está motivado apenas por interesses individuais, tais como a manutenção do seu posto e da sua tença anual. É poderoso, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico e autoritário. Acaba por desprezar o país onde vive. A sua opinião sobre Portugal fica claramente expressa na afirmação “Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cuidado.”. Ainda consegue ser minimamente honesto, pois tem a coragem de dizer o que realmente quer, ao contrário dos dois outros governadores (portugueses). Apesar disto é um bom militar.
Em relação às novas ideias liberais, Beresford afirma:
“O que interessa é saber qual é a melhor forma de sufocar a revolta que se prepara. (…) Os chefes?! Quem são os chefes? ; Já que temos ocasião de crucificar alguém, que escolhamos a quem valha a pena crucificar…”

Delatores/ Traidores
Andrade Corvo e Morais Sarmento, “dois denunciantes que honraram a classe” cuja existência histórica encontra-se comprovada.
São os delatores por excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais, para servir obscuros “propósitos patrióticos”. Dando corpo à visão tentacular do aparelho repressivo do Estado, Morais Sarmento e Andrade Corvo são meros títeres na mão dos poderes.
O primeiro é Capitão do Exército e atormenta-se com o facto de o poderem rotular de traidor, o segundo é Oficial e preocupa-se somente com o dinheiro que vai receber, não se importando com o que dele vão dizer.
Ambos são membros da Maçonaria ( Morais Sarmento da loja Philantropia, e Andrade Corvo da loja Virtude), antigos companheiros de Gomes Freire, a quem denunciam  a Conspiração a troco de uma quantia avultada.
  Vicente, “um provocador em vias de promoção”.
Elemento do povo, Vicente trai os seus iguais, chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua própria ascensão político-social. A sua actuação evidencia dois momentos distintos: num primeiro momento, tenta denegrir junto do povo o prestígio do general assumindo-se como um provocador e agitador; num segundo momento, assumindo o papel especifico de denunciar o General a D. Miguel a troco da nomeação como intendente da polícia. 
Vicente é uma personagem incómoda, talvez porque leve o espectador a olhara para dentro de si e a rever-se em alguns comportamentos. Ele é indubitavelmente todo aquele que se vende ao poder de forma pouco escrupulosa.

Os mais conscientes

Manuel e Rita
Estas personagens são casadas e vivem na miséria.
São um símbolo do povo oprimido e esmagado, têm a consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples brinquedos nas mãos dos mais poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação. 
 Vêem em Gomes Freire uma espécie de messias e daí a agressividade de Manuel em relação a Matilde, quando ela lhes pede que se revoltem e que a ajudem a libertar o seu homem, depois da prisão do General. O povo deposita esperança em Gomes Freire e vê a sua prisão como uma espécie de traição. Porém, Rita, compreende o sofrimento de Matilde de Melo, talvez por ser mulher, revelando uma grande cumplicidade com esta. 
Manuel é o elemento que polariza os restantes elementos do povo, dominados pela miséria, sem coragem e vontade de intervir.
Ambas as personagens sentem que a luta está perdida e que a situação é pior do que pensavam, e para demonstrar isto mesmo temos a afirmação de Manuel quando diz:”Se tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome…Se durante uns tempos, acreditámos em nós próprios, voltamos a não acreditar em nada…”, enquando Rita aconselha para não se meter em confusões que é representada com a seguinte passagem: “Nunca te metas nestas coisas, Manuel! Haja o que houver, nunca te metas com eles. Prefiro ver-te com fome, a perder-te”. 
Manuel e Rita acabam também por simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma legião de miseráveis face à quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.

 Fim da 3ª parte
 Publicado por José Fernandes Rodriguez

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