O BlogBESSS...

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Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


A possibilidade de os leitores e autores deixarem comentários, de forma sequencial e interativa, corresponde à natureza essencial dos blogues
e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


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(Leia a mensagem de 10 de abril de 2009).


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BlogBESSS e as indicações de "Como Comentar.." nas mensagens de 10 de fevereiro de 2009.


A Biblioteca Escolar da ESSS

PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


sábado, 1 de maio de 2010

Estudo Ilustrado das Personagens de "Felizmente há Luar!" - 4ª parte


4ª parte e última...

O general Gomes Freire de Andrade e os seus amigos

Personagens do antipoder
Formam um grupo destacado, revelando-se ao longo da acção fiéis aos seus valores e a si próprios, unidos pela amizade e fidelidade a Gomes Freire.

General Gomes Freire de Andrade
General Gomes Freire de Andrade é a personagem central de toda a peça. Está sempre presente embora nunca apareça em cena. Assume uma grande importância no desenvolvimento da acção, pois condiciona a estrutura interna de toda a peça e os comportamentos de todas as outras personagens, surgindo nas palavras e pensamentos de todos.
O que sabemos sobre ele é através dos outros que, nos seus diálogos, discutem a figura do General. Assim, para os populares, apesar de General e estrangeirado, é um herói defensor da liberdade e da justiça, homem de grande coragem, “Um amigo do povo! Um homem às direitas! Quem fez aquele não fez outro igual…” ; para os amigos é visto como uma pessoa valiosa, amigo honesto, companheiro valente, franco, justo, leal, aberto, com grandes qualidades humanas, capacidade de liderança e defesa dos seus ideais, que enfrenta o poder instituído até às suas últimas consequências; e para os Governadores é uma ameaça ao poder absolutista, pelas suas ideias liberais e jacobinistas, “Trata-se dum inimigo natural desta Regência.”, “ Senhores governadores: aí tendes o chefe da revolta. Notai que não lhe falta nada: é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado…”, homem de carácter firme, chefe de revolta perigoso e rotulado de traidor, devendo por isso ser morto e “abatido”. É primo e antigo camarada de armas de D. Miguel
Em suma, é amado pelo grupo de personagens que aspiram à liberdade e à abolição do regime absolutista, sendo visto como um herói; e é odiado por aquelas que vêem a sua existência como uma ameaça aos privilégios até então obtidos, sendo tratado como um tirano e um anti-herói.
Símbolo de esperança e liberdade, representa General Humberto Delgado e os outros políticos que foram presos por defenderem a integridade e a recusa da subserviência e por serem exemplos de coragem na defesa dos seus ideais.
Apesar de ser preso e executado numa fogueira em frente ao forte São Julião da Barra, a 18 de Outubro de 1817, General Gomes Freire de Andrade leva a uma reflexão sobre a situação política, social, económica e cultural do seu país, nomeadamente sobre o regime opressivo vigente que se fazia notar através das injustiças, das condenações e das torturas de todos aqueles que não apoiavam as ideias salazaristas. A sua luta serve para despertar consciências e para levar as pessoas a reagirem criticamente nas suas decisões.

 
Matilde Melo
Matilde Melo é a personagem dramaticamente mais elaborada de toda a peça “Felizmente há luar”.
Mulher de meia-idade, natural de Seia, uma terra pequena e pobre, foi criada entre árvores e penhascos e ensinada a amar Deus sobre todas as coisas. Quando conheceu o General, a sua vida era apenas um pequeno e limitado espaço dentro da sua aldeia. Mas com ele aprendeu a ver o mundo com outros olhos, vivendo os anos mais felizes da sua vida.
Amiga e mulher de General Gomes Freire de Andrade, mostra ser uma mulher carinhosa e apaixonada, revelando determinação e coragem. Apresenta um forte carácter, grande densidade psicológica e carga simbólica. “ Sou a mulher do general Gomes Freire d’Andrade.”
Surge no segundo acto como uma personagem de grande importância. Primeiramente aparece vestida de negro, desgrenhada e falando sozinha, após os polícias proibirem o ajuntamento de populares na rua. Quando se dirige a William Beresford usa um xaile à volta dos ombros. No final da peça, com o objectivo de ver o General pela última vez, veste a simbólica saia verde que o seu amado lhe comprou em Paris e que nunca chegara a usá-la até então. “Sabe o que é que ele fez com aquele dinheiro? Comprou-me uma saia verde. Disse-me que era para quando voltássemos a Portugal… […] Nunca a vesti…Nunca calhou, não sei porquê…”
É ela que tenta desesperadamente, pelo seu discurso e actos, salvar o General e tirá-lo da prisão, assumindo-se como voz da consciência e da revolta contra a injustiça humana. “Serei, então, a voz da sua consciência. (…)”; “Enquanto tiver voz para gritar…Baterei a todas as portas, clamarei por toda a parte, mendigarei, se for preciso, a vida daquele a quem devo  a minha!”. Enfrenta com heroísmo a falsidade e a hipocrisia do Estado e da Igreja, lutando pelos lemas da Revolução Liberal  - fraternidade, igualdade e liberdade — e pelos princípios que o seu marido tanto apoiava. À medida que se vai apercebendo da inutilidade das suas palavras, com o desespero, chega mesmo a questionar e contestar os valores que defendia, como o caso do próprio Deus.
Nela se concentra toda a força dramática da peça e a voz de um autor que, sob o motivo histórico, visa criticar a Ditadura Salazarista e todos aqueles anos conturbados do Antigo Regime. Matilde representa as mães, esposas, irmãs dos presos políticos que, lentamente, vão tomando consciência da situação política e que hesitam entre salvar a família ou defender o povo. No entanto esta mulher é, sem dúvida, uma força que tenta de tudo para defender os seus interesses e por denunciar as injustiças opressoras do poder social da altura.

Sousa Falcão
António de Sousa Falcão é o amigo inseparável de Matilde e de Gomes Freire. É o único amigo fiel ao General e representa as poucas pessoas que realmente lutam por aquilo e aqueles que amam, mesmo quando os momentos são os mais difíceis. Assistiu à morte do filho do casal amigo e apoia Matilde na sua luta.
Surge no segundo acto, acompanhando Matilde no seu sofrimento. Mostra-se solidário com esta e decide acompanhá-la para ir falar com os governadores. “ Não sei como agradecer-lhe tudo o que foi para nós, António: o amigo das coisas importantes e das pequenas coisas – essas pequenas coisas que só os verdadeiros amigos compreendem. Assistiu à morte do nosso filho e… agora, finge acreditar que vou ter ocasião de vestir a saia verde! Ainda que não creia, fico-lhe igualmente grata por ambas as coisas.”
Nutre uma grande admiração pelo General e pelos princípios que este defendia. A morte do seu amigo leva-o a reflectir sobre si próprio, sentindo-se culpado por não ter o mesmo destino, algo que não aconteceu graças à sua falta de coragem e cobardia. “(…) Só é digno de ser amigo de alguém quem de si próprio é amigo, Matilde, e eu odeio-me com toda a força que me resta. (…) As ideias de Gomes Freire são também as minhas, mas ele vai ser enforcado – e eu não. (…) Faltou-me sempre coragem para estar na primeira linha…”
Sousa Falcão representa as pessoas que acreditavam em Humberto Delgado mas que não tiveram coragem suficiente para intervir (com medo das represálias), ficando marcadas pelo desespero da situação. Podemos dizer que representa a impotência perante o despotismo dos governadores da época.

Frei Diogo
Frade Jerónimo Frei Diogo de Melo e Meneses é um representante do clero que faz parte do grupo de personagens do anti-poder, dentro da Igreja.
É uma personagem que aparece no segundo acto da peça, no meio de uma conversa entre o Principal Sousa e Matilde, após esta ter sido humilhada perante a resposta do governador quando lhe pede audiência.
É um homem sério, honesto, compreensivo e solidário que conforta Matilde com as suas palavras sobre o General Gomes Freire de Andrade. Frei Diogo apoia e elogia o General, afirmando que “se há santos, o General é um deles” ou “(…) Foi um privilégio que Deus lhe concedeu – o de viver ao lado dum homem como o general Gomes Freire” . Como homem sensível, compreende a dor que Matilde sente e procura confortá-la.
É o contraposto do Principal Sousa. Está consciente da injustiça de repressão e da perseguição política e é sincero em relação à sua posição, declarando o que realmente pensa e sente e não se dando ao trabalho de grandes subtilezas. “ Talvez tenha razão, Reverência, mas não sou homem para grandes subtilezas. (…)”
Em termos de paralelismo em relação à Década de 60, representa a facção da Igreja que estava consciente da situação, o grupo da Tribuna Livre (1968).

 

Breve Glossário de Outros Conceitos

Liberalismo
O Liberalismo é uma corrente política que abrange diversas ideologias históricas e presentes, que proclama como devendo ser o único objectivo do governo a preservação da liberdade individual. Concede o direito à discordância das doutrinas ortodoxas e das autoridades estabelecidas em termos políticos ou religiosos
Absolutismo
Absolutismo é um termo usado para identificar um regime político europeu, característico da Idade Moderna, que no caso português, de acordo com alguns autores, tem a sua "origem" no reinado de D. João I.
No Absolutismo português o rei era aclamado e obrigado a prestar um juramento pelo qual se comprometia a respeitar o povo, as leis da Igreja e os privilégios e costumes do reino, isto é, o monarca comprometia-se a aceitar a lei moral e religiosa, bem como as tradições.
       Depois de restabelecida a paz com Espanha na sequência das guerras da Restauração, entrou-se num novo período da monarquia absoluta, que englobava os reinados de D. Pedro II e D. João VI, durante os quais não houve uma mudança na estrutura absolutista continuou, de uma maneira geral, um Absolutismo tradicionalista. 
D. João VI
Rei de Portugal de 1816 a 1826, era filho segundo de D. Maria I e de D. Pedro III. Nasceu em 1767. Casou em 1785 com D. Carlota Joaquina, filha de Carlos IV de Espanha. Tornou-se herdeiro do trono por morte de seu irmão D. José, em 1788.
Em 1807, juntamente com a família régia, embarcou para o Brasil. D. Maria morreu em 1816 e D. João VI foi aclamado rei. Em 1820 deu-se a Revolução Liberal e o monarca regressou a Lisboa em 1821, onde jurou a Constituição Liberal de 1822.
D. João VI faleceu em 1826, deixando o governo entregue à regência da infanta D. Isabel Maria em nome de D. Pedro IV, imperador do Brasil. 
       D. Miguel
Terceiro filho varão de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, nasceu em Queluz, a 26 de Outubro de 1802, e morreu em Brombach, a 14 de Novembro de 1866. Vigésimo nono rei de Portugal (1828-1834), ficou conhecido pelos cognomes o Usurpador e o Absolutista.
Na sequência da primeira invasão francesa, embarcou, em 1807, com a família real para o Brasil, de onde regressou acompanhado dos pais em 1821, tendo ficado o seu irmão D. Pedro a governar o Brasil.
       Aquando da morte de D. João VI, D. Miguel escreve para o Brasil e D. Pedro IV, numa tentativa de conciliação, abdica do trono português a favor de a sua filha D. Maria da Glória, na condição de ser jurada a Carta Constitucional e da sua filha casar com D. Miguel. Este não só celebra os esponsais com a sobrinha como jura a Carta Constitucional outorgada por seu irmão.
       Chegado a Lisboa em Fevereiro de 1828, D. Miguel jura novamente a Carta. Porém, decorrido pouco tempo, falta ao compromisso assumido com o seu irmão, nomeia um novo ministério, dissolve as Câmaras e, convocadas as cortes à maneira antiga, é proclamado pelos três estados do reino rei absoluto. Assim, inicia-se a guerra civil que se prolongaria por dois anos (1832-1834) e que levaria D. Maria II ao trono. Mais tarde, verificando a impossibilidade de continuar a luta, D. Miguel rende-se, assinando em 26 de Maio de 1834 a Convenção de Évora-Monte. No dia 1 de Junho de 1834, D. Miguel deixa definitivamente Portugal.
       D. Pedro IV
       Monarca português, segundo filho varão de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, nasceu em Queluz em 12 de Outubro de 1798, onde faleceu em 24 de Setembro de 1834.
       Já no Brasil, casou com a arquiduquesa Leopoldina de Áustria, de quem teve dois filhos: D. Maria da Glória (1819) e D. Pedro (1825). D. João VI, por intimativas de Lisboa, nomeia regente do Brasil D. Pedro (devido à agitação popular no Rio, Pará e na Baía, de inspiração liberal) e volta a Portugal.
       Em 1822, o regente proclamava formalmente a independência brasileira, junto ao Ipiranga, estado de São Paulo, sendo mais tarde proclamado imperador do Brasil. Quando em 1826, D. João VI morre, e se abre o problema da sucessão, D. Pedro é proclamado rei de Portugal, conforme as determinações paternais. No decurso do seu breve reinado, confirma D. Isabel Maria na regência, outorga aos seus súbditos uma Carta Constitucional (V. este nome) e abdica, condicionalmente, da sua filha D. Maria da Glória, com a condição do casamento desta com seu tio D. Miguel (V. este nome), que devia jurar a Carta. Após a doação da Carta os acontecimentos precipitaram-se: em Portugal, D. Miguel começa a governar como rei absoluto (1827) e os liberais são expatriados, presos ou enforcados.
       Tendo abdicado de duas coroas, o ex-imperador do Brasil e ex-rei de Portugal, reduzido ao título de duque de Bragança, abandona o Brasil e dirige-se para a Europa com a filha D. Maria II, rainha de nome, por cujo trono se batiam os liberais portugueses espalhados pela Europa, ou reunidos na Ilha Terceira. O duque de Bragança decide empenhar-se pessoalmente na solução e a 3 de Março de 1832 assume a regência.
       A convenção de Évora Monte põe fim à cruel guerra civil, e exila o rei absoluto. Pouco mais viveria D. Pedro: só o tempo suficiente para ver as Cortes reunidas de acordo com a carta, tendo falecido 4 dias após o começo do reinado de D. Maria II.
       Carta Constitucional
A Carta Constitucional representou um compromisso entre a doutrina da soberania nacional, adoptada sem restrições pela Constituição de 1822, e o desejo de preservar os direitos régios, o que descontentou os vintistas, que eram mais radicais, e os absolutistas, bastante mais conservadores. Acabou, todavia, por ser jurada por todos, incluindo D. Miguel.
A Carta vigorou durante três períodos:
O primeiro entre Julho de 1826 e Maio de 1828, data em que D. Miguel convocou os três Estados do Reino, que o aclamaram rei e decretaram nula a Carta Constitucional;
- O segundo iniciou-se em Agosto de 1834, com a vitória do Partido Liberal na Guerra Civil e a saída do País de D. Miguel, e termina com a revolução de Setembro de 1836, que proclama de novo a Constituição de 1822 até se elaborar nova Constituição, o que sucedeu em 1838:
- O terceiro período começa com o golpe de Estado de Costa Cabral, em Janeiro de 1842, e só termina em 1910, com a República. Durante este último período sofreu três revisões profundas, em 1852, 1885 e 1896.
ão se sabe ao certo quem foi o seu autor, presumindo-se que tenha sido José Joaquim Carneiro de Campos. Quem quer que fosse utilizou como fontes a Constituição do Império do Brasil, a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional outorgada por Luís XVIII de França em 1814.
       Convenção de Évora-Monte
       Convenção que pôs termo à luta entre os exércitos de D. Pedro e D. Miguel, celebrada entre liberais e absolutistas, e assinada em 26 de Maio de 1834, pela qual D. Miguel se obrigou, perante a Inglaterra, a Espanha e a França, a fazer depor as armas ao seu exército.
       Os miguelistas haviam ficado completamente desanimados e muitos oficiais abandonaram a causa absolutista levando consigo muitos soldados; o próprio coronel dos dragões de Chaves, que era compadre de D. Miguel e lhe devia muitos favores, desertou com quase todo o regimento. O procedimento deste militar foi censurado até pelos próprios liberais. As relíquias do exército de D. Miguel, abandonando as fortes posições de Santarém, atravessaram o Tejo em direcção a Évora, onde houve ideia de tentar a sorte das armas, porque as tropas miguelistas ainda ascendiam a dezanove mil homens, mas completamente desmoralizados por sucessivas derrotas.
       Reconhecendo a ineficácia de prolongar a resistência, assinou-se a convenção.
       Marxismo
       Sistema doutrinário do economista alemão Karl Marx (1818-1883), segundo o qual é a produção de bens materiais que condiciona, de modo geral, a vida social, intelectual e política, e que considera o colectivismo dirigido pelo Estado como termo fatal e necessário na evolução social.
       Nacional-Socialismo
       Movimento político chefiado por Adolf Hitler, que veio a governar a Alemanha desde 1933 até ao fim da II Guerra Mundial (1945), e cuja ideologia totalitarista assentava fundamentalmente num nacionalismo exagerado e ferozmente racista; Nazismo.

NOTA FINAL, dos autores:
   Com todo este trabalho de pesquisa e análise aqui apresentado,  esperamos ter ido de encontro do desafio que nos foi proposto inicialmente. Ao longo deste projecto foi-nos permitido assimilar novos conhecimentos, o que se mostrou muito positivo e enriquecedor para o nosso desenvolvimento académico.
Esperamos que o mesmo aconteça a todos os alunos que tiverem contacto com este trabalho sobre a obra Felizmente Há Luar!

Bibliografia

Fontes da Internet:
Ø      esbatalha.ccems.pt/romanicas/12ano/stau_monteiro/sintese.pdf
Ø      pt.wikipedia.org/wiki/Felizmente_Há_Luar!
Ø      aulaportugues.no.sapo.pt/textosapoiofhl.htm
Ø      www.lithis.net/52
FIM 

Publicado por José Fernandes Rodriguez

Estudo Ilustrado das Personagens de "Felizmente há Luar!" - 3ª parte

                                                                     
A Obra
Acto I
Este Acto começa com uma cena colectiva. Do grupo do povo são destacados Manuel, Rita, dois populares, uma velha e Vicente. A troca de ideias (conversa ) entre estas personagens cai sobre a miséria em que vivem e o sentimento de impotência, Manuel chega a questionar-se “Que posso eu fazer?”. A sensação auditiva produzida pelos tambores, que se escuta a uma grande distância, gera com que os populares deêm início a um murmurar sobre Gomes Freire de Andrade− “Um amigo do povo! Um homem às direitas!” . Todos prestam culto a Gomes Freire, fora Vicente, que arruína a imagem do General como indíciduo que não tem defeitos, falhas ou erros. A sua fala oratória é cheia de sarcasmo, fazendo um esforço para se aparentar aos que escutam que o General de modo nenhum é desigual aos outros poderosos, uma vez que “O que há é homens e generais”.
Naquele meio tempo, o povo espalha-se com a vinda de dois policias que vêm colher informações e que se aproximam de Vicente. O diálogo entre três personagens mostra-nos, progressivamente, que Vicente encaminha a sua vida em função do dinheiro e do poder − “Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força”. Por isso, não tem pruridos em afirmar que vende os seus “irmãos” porque eles lhe fazem trazer à memória a fome e a miséria em que veio ao mundo− “... sempre que olho para eles me vejo a mim próprio: sujo, condenado à miséria por acidente de nascimento”. Este “acidente” determina revolta pela sua condição.−“ A única coisa que me distingue dum fidalgo é uma coisa que se passou há muitos anos e de nem sequer tive a culpa: o meu nascimento”. Comesta sinceridade, os dois polícias divulgam a Vicente que o governador do reino, D.Miguel Pereira Forjaz, lhe quer exprimir por palavras, possivelmente, a atribuição de “uma missão especial”. Vicente já se idealiza como chefe de polícia e, face ao comentário do primeiro polícia de que, tendo sido “os portadores da boa nova”, poderiam ser recompensados, lembra a arrogância dos poderosos, mesmo quando a sua fonte é modesta.
Vicente é levado à presença de D. Miguel e do Principal Sousa pelos polícias. Ao ser interrogado por D. Miguel acerca da eventual existência de um agitador político junto do povo, supõe, dando alguns esclarecimentos dispersos. D.Miguel acaba de lhe entregar um encargo: estar de sentinela pela casa do seu primo, o general Gomes Freire de Andrade, para os lados do Rato.
D.Miguel acaba de lhe entregaruma missão: estar de sentinela pela casa do seu primo, o General Gomes Freire de Andrade, para os lados do Rato. Vicente sai e os “três reis do Rossio”, D.Miguel, o principal Sousa e o Marechal Beresford, militar inglês, dialogam sobre o estado da nação, o perido das novas ideias subversivas que destruirão o país e o “reino de Deus”. Chegam, então, à conclusão de que é necessário encontrar um nome, açguém que possa ser acusar de ser o responsável pelo clima de insurreição que alastra pelo país. Andrade Corvo e Morais Sarmento, antigos companheiros do General e actuais delatores, apresentam-se diante dos governadores, dando-lhes conta dos resultados das suas investigações, em troca de “algo mais substancial”.
Novamente sós, os três governadores dialogam sobre o castigo a aplicar a quem ousa ser inimigo do reino, tomando forma a ironia de Beresford que, sem inibições, desprestigia aos Portugueses e assume despudoradamente a sua sobranceria e o seu interesse meramente económico− “Pretendo uma única coisa de vós: que me pagueis- e bem!”. De modo pragmático Beresford afirma que troca os seus serviços (a reorganização do exército) por dinheiro. O principal Sousa reconhece que a atitude do marechal lhe desagrada, mas que precisa dele para encontrar “o chefe da conjura”.
Andrade Corvo, Morais Sarmento e Vicente entram rotativamente em cena, dando conta das suas diligências, inicialmente pouco consistentes, mas acabam por se concretizar na indicação de um nome, o do General Gomes Freire de Andrade. Está encontrada a vitíma e só resta a “Morte ao traidor Gomes Freire d’Andrade”.


 Acto II
À semelhançaça do primeiro, o acto II, começa com uma cena colectiva. Manuel dá a conhecer o seu sentimento de impotência face à prisão do General e reconhece que a situação de miséria em que vivem é ainda mais desesperante− “E ficamos pior do que estávamos... Se tínhamos fome e esperança, ficámos só com fome...”. Os outros populares acompanham-no no seu desalento, até uma nova intervenção policial, que dispersa o grupo.
A mulher de Manuel, Rita , demonstra a sua compaixão relativamente a Matilde (mulher do general), pois tinha a ouvido chorar após a morte do seu homem, e implora a Manuel para nao se meter “nestas coisas”.
Matilde surge, proferindo um discurso solitário, em que relembra os momentos de intimidade vividos com o seu General e ironiza dizendo que, se o seu filho ainda fosse vivo, lhe ensinaria a ser cobarde e “a cuidar mais do fato que da consciência e da bolsa do que da alma”.
Sousa Falcão, “amigo inseparável de Matilde e de Gomes Freire”, surge diante de Matilde, confessando o seu desânimo e desencanto face ao país em que vive− “O Deus deste reino é um fidalgo respeitável que trata como amigo a Pôncio Pilatos (...) Vive num solar brasonado e dá esmolas, ao domingo, por amor de Deus”. Sousa Falcão despede-se de Matilde e parte em busca de notícias do amigo, deixando Matilde, dolorosamente triste, mas com vontade de enfrentar o poder.− “Vou enfrentá-los. É o que ele (o general) faria se aqui estivesse”.
Diante de Beresford, que aproveita a situação para humilhar a mulher do General, Matilde implora a sua libertação− “Quero o meu homem! Quero o meu homem, aqui ao meu lado!”, sem qualquer fruto.
Matilde, fora de si, aproxima-se dos populares, que, indiferentes à sua presença, evocam Vicente, agora feito chefe da polícia. No entanto Manuel e Rita, após momentos de recriminação a Matilde, de que a oferta de uma moeda como esmola é símbolo, manifestam-lhe a sua solidariedade moral− “Não a podemos ajudar, senhora. Deus não nos deu nozes e os homens tiraram-nos os dentes...”.
Sousa Falcão reencontra-se com Matilde e revela-lhe que ninguém pode ver o General, já encarcerado numa masmorra sombria em S. Julião da Barra, sem direito a julgamento. Matilde, inconformada, recorda, então, a saia verde que o General um dia lhe oferecera em Paris e, como que recuperada do seu desgosto, decide enfrentar uma vez mais o poder. O seu objectivo é exigir um julgamento e, para isso, dirige-se ao principal Sousa, desmontando a mensagem evangélica, para lhe mostrar quanto o seu comportamento é contrário aos ensinamentos de Cristo− “Como governador, já perdoou a Cristo a que Ele foi e o que Ele ensinou?”. Frei Diogo, frade jerónimo, interrompe o diálogo dos dois, anunciano que estivera com o General Gomes Freire para o confessar e tenta acalmar o desespero e a revolta de Matilde− “Haja o que houver, não julgue a Deus pelos homens que falam em Seu nome. (...) Não faça a Deus o que os homens fizeram ao general Gomes Freire: não O julgue sem O ouvir.” De forma arrogante, Matilde dirige as últimas palavras ao principal Sousa, amaldiçoando-o. Sousa Falcão anuncia que a execução do General e dos restantes prisioneiros está próxima. Matilde, em desespero, pede, uma vez mais, pela vida do General e D.Miguel Forjazinforma que a execução se prolongará pela noite, “mas felizmente há luar...“. Matilde inicia, então, um discurso de grande intensidade dramática: dirige-se a Deus, interpelando-O e lembrando-Lhe os seus ensinamentos− “Senhor: não pretendo ensinar-Te a ser Deus, mas, quando chegar a hora da sentença, não Te esqueças de que estes sabiam o que faziam!”. Os populares comentam a execução do General: recusaram-lhe o fuzilamento e vai ser queimado.
O acto termina com Sousa Falcão e Matilde em palco: o amigo do general elogia-o; Matilde despede-se do homem que amou− “Dá-me um beijo− o último na Terra− e vai! Saberei que lá chegaste quando ouvir os tambores!” , e lança palavras de coragem e ânimo ao povo− “Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira(...) felizmente há luar!”

A simbologia/ intencionalidade da obra
Título (Felizmente Há Luar!) /  
 Luar
A frase “Felizmente há luar” é proferida por duas personagens de "mundos" diferentes:
          D. Miguel, símbolo do Poder
          Matilde, símbolo da resistência
Assim, o luar é interpretado de duas maneiras diferentes:
           Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira atemorize todos aqueles que queiram lutar pela liberdade — efeito dissuasor. [Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada, Excelência, e o cheiro há-de-lhes ficar na memória durante muitos anos… Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens, lembrar-se-ão do cheiro (…)] - Acto II, pág. 131
           Para Matilde, o luar destaca a intensidade do fogo incitando aqueles que acreditam na mudança e na “luz da liberdade” (prenúncio da Revolução Liberal) —estimulando o povo a revoltar-se. [(Para o povo) Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim (…)] - Acto II, pág. 140
Saia Verde
Associada à felicidade (em vida), foi comprada em Paris (terra de liberdade), no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas.
A cor verde está relacionada com a esperança de que um dia se reponha a justiça, com a tranquilidade e com a felicidade do reencontro, embora numa outra dimensão, ou num futuro diferente (na morte).
Assim, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, Matilde comunica esperança aos outros, através desta peça de vestuário.

Luz/ Noite
A luz é a metáfora do conhecimento que permite o progresso da sociedade e a construção do futuro, assente na defesa dos valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, opostamente à noite, que representa escuridão, morte, repressão, obscurantismo, conspiração. Isto pode-se ver no acto II, pág. 116:
MATILDE
Obrigado, meu amigo. Obrigado por ma querer, mas não: nesta terra a esperança é uma palavra vã.
(Pausa)
Eu é que tenho de continuar como se a tivesse. Sou a mulher dele, António… e ele… é o meu homem.
Enquanto não nos matarem, aquele de nós que estiver livre tem de lutar.
SOUSA FALCÃO
Mas como, Matilde? Como é que se pode lutar contra a noite?
Lua
Representa dependência, periodicidade e renovação, por depender do Sol, por atravessar fases (ciclos lunares) e por mudar de forma. Simboliza também a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que está relacionado com a crença na vida depois da morte. Isto pode-se ver no Acto II, págs. 137-139, onde Matilde fala com o espírito do General Gomes de Freire.
A fogueira – o clarão
Para D. Miguel Forjaz representa o ensinamento ao povo enquanto para Matilde representa a chama que se mantém viva e a liberdade que há-de chegar.
O fogo é um elemento destruidor e, simultaneamente purificador e regenerador. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.
A moeda de cinco reis
A moeda aparece na obra em duas situações diferentes:
          Na primeira situação, Manuel diz a Rita que dê a moeda a Matilde e, logo a seguir, diz-lhe que não lha dê, mas Matilde acaba por ficar com a moeda a seu pedido, simbolizando a miséria, a pobreza do povo que mendiga pela sobrevivência, dignidade e pelo direito à vida e à liberdade. – Acto II, pág. 105-108.
          Na outra situação, no confronto entre o principal Sousa e Matilde, esta lança-lhe a moeda aos pés, traduzindo a traição, a corrupção e a submissão dos poderosos a interesses mesquinhos e materiais (contrariando os mandamentos de Deus). – Acto II, pág. 109-110.
Tambores
Símbolo da repressão militar e policial e a intimidante perseguição a que o povo era sujeito para não pôr em causa a autoridade dos governadores, «sempre presente e sempre pronta a intervir».


Grupos de Personagens
Os governadores do Reino
D. Miguel Pereira Forjaz – personalidade na História de Portugal
D. Miguel Pereira Forjaz (1769-1827) entrou para o exército, tendo chegado ao cargo de capitão--general. Apoiou Beresford na reorganização do exército português, embora assumindo posições cada vez mais críticas sobre a influência do general britânico. Abandonou o seu lugar na regência com a revolução de 1820, mas recebeu o título de Conde da Feira. É o representante da nobreza na regência, assumindo o papel mais relevante na acusação do General Gomes Freire. D. Miguel, ao acusar Gomes Freire, receia que este coloque o seu lugar na regência em causa, e que lhe tire a projecção a que está habituado.
    D. Miguel Pereira Forjaz – a personagem na ficção
D. Miguel Pereira Forjaz é primo de Gomes Freire de Andrade. Vive assustado com as transformações que não deseja. Pois se essas transformações acontecerem, D. Miguel será afastado da regência. Para além de ser vingativo, servil, frio, desumano e prepotente, também está corrompido pelo poder. Nas palavras de Sousa Falcão, D. Miguel “é a personificação da mediocridade consciente e rancorosa”. Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e demagógica, construindo verdades falsas. Os argumentos do "ardor patriótico", da construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político dos anos 60. É um pequeno tirano, avesso ao progresso e insensível à injustiça e à miséria. D. Miguel acaba por simbolizar a decadência do país que governa. Possui uma aversão pelo povo (“Não sou, e nunca serei, popular. Quem o for é meu inimigo pessoal.”).
Em relação às novas ideias liberais, D. Miguel afirma:
“Se não tomarmos as necessárias precauções, dentro em breve teremos a desordem nas ruas e a anarquia nas almas! (…) Não concebo a vida, Excelências, desde que o taberneiro da esquina possa discutir a opinião d’el-rei, nem me seria possível viver desde que a minha opinião valesse tanto como a de um arruaceiro.”
Principal Sousa - personalidade na História de Portugal
Principal Sousa fez parte da Regência do Reino até à Revolução Liberal de 1820, durante a ausência do Rei D. João VI. É o representante do clero na regência, acaba por reconhecer que Portugal precisava do regresso do rei, como o demonstra numa carta de 1817.

Principal Sousa – personagem na ficção
Principal Sousa é o representante do clero no Governo. É uma personagem corrompida pelo poder eclesiástico e fanática. Defende o obscurantismo do povo para que os tiranos governem livremente, afirmando mesmo que “Por essas aldeias fora é cada vez menor o número dos que frequentam as igrejas e cada vez maior o número dos que só pensam em aprender a ler …”. Odeia os franceses porque “transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de revoltados!”. Nas palavras do Principal Sousa é igualmente possível detectar os fundamentos da política do "orgulhosamente sós" dos anos 60.
Em relação às novas ideias liberais, Principal Sousa admite:
“Senhor Governador, tenho medo. Há dois dias que quase não durmo e mesmo, quando passo pelo sono, perseguem-me imagens terríveis: imagino-me réu perante um tribunal que me não respeita. Dedos imundos tocam-me nas vestes. (…) à minha volta os gritos do povo me não deixavam, sequer, ouvir a sentença…”

NOTA: D. Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas personagens mais execráveis de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam.

Marechal Beresford - personalidade na História de Portugal
General William Beresford (1768-1854) foi enviado pela Grã-Bretanha para, após a primeira invasão francesa, reorganizar o exército português, preparando-o para resistir às tropas napoleónicas. Na Madeira, para evitar a ocupação da ilha pelos franceses, foi governador e comandante-chefe. Submeteu o país a uma forte organização militar, tendo sido nomeado generalíssimo do exército português. À medida que os seus poderes aumentavam, colocava os oficiais britânicos nos mais altos postos, preterindo os portugueses. Rejeitava as novas ideias liberais e reprimia conspirações. Em 1817, mandou matar os conspiradores (entre eles o general Gomes Freire de Andrade), pois havia rumores de uma conspiração contra a presença inglesa. Três anos depois, deslocou-se ao Brasil para pedir mais poderes a D. João VI. Ao regressar, como marechal-general do exército português, já a Revolução Liberal (24 de Agosto de 1820) estava nas ruas. Foi obrigado a regressar directamente para Inglaterra.
Marechal Beresford – personagem na ficção
Beresford odeia Gomes Freire de Andrade, não porque o afronte enquanto oficial, mas porque o incomoda enquanto herói do povo. Ao assumir o processo de Gomes Freire está motivado apenas por interesses individuais, tais como a manutenção do seu posto e da sua tença anual. É poderoso, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico e autoritário. Acaba por desprezar o país onde vive. A sua opinião sobre Portugal fica claramente expressa na afirmação “Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cuidado.”. Ainda consegue ser minimamente honesto, pois tem a coragem de dizer o que realmente quer, ao contrário dos dois outros governadores (portugueses). Apesar disto é um bom militar.
Em relação às novas ideias liberais, Beresford afirma:
“O que interessa é saber qual é a melhor forma de sufocar a revolta que se prepara. (…) Os chefes?! Quem são os chefes? ; Já que temos ocasião de crucificar alguém, que escolhamos a quem valha a pena crucificar…”

Delatores/ Traidores
Andrade Corvo e Morais Sarmento, “dois denunciantes que honraram a classe” cuja existência histórica encontra-se comprovada.
São os delatores por excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais, para servir obscuros “propósitos patrióticos”. Dando corpo à visão tentacular do aparelho repressivo do Estado, Morais Sarmento e Andrade Corvo são meros títeres na mão dos poderes.
O primeiro é Capitão do Exército e atormenta-se com o facto de o poderem rotular de traidor, o segundo é Oficial e preocupa-se somente com o dinheiro que vai receber, não se importando com o que dele vão dizer.
Ambos são membros da Maçonaria ( Morais Sarmento da loja Philantropia, e Andrade Corvo da loja Virtude), antigos companheiros de Gomes Freire, a quem denunciam  a Conspiração a troco de uma quantia avultada.
  Vicente, “um provocador em vias de promoção”.
Elemento do povo, Vicente trai os seus iguais, chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua própria ascensão político-social. A sua actuação evidencia dois momentos distintos: num primeiro momento, tenta denegrir junto do povo o prestígio do general assumindo-se como um provocador e agitador; num segundo momento, assumindo o papel especifico de denunciar o General a D. Miguel a troco da nomeação como intendente da polícia. 
Vicente é uma personagem incómoda, talvez porque leve o espectador a olhara para dentro de si e a rever-se em alguns comportamentos. Ele é indubitavelmente todo aquele que se vende ao poder de forma pouco escrupulosa.

Os mais conscientes

Manuel e Rita
Estas personagens são casadas e vivem na miséria.
São um símbolo do povo oprimido e esmagado, têm a consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples brinquedos nas mãos dos mais poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação. 
 Vêem em Gomes Freire uma espécie de messias e daí a agressividade de Manuel em relação a Matilde, quando ela lhes pede que se revoltem e que a ajudem a libertar o seu homem, depois da prisão do General. O povo deposita esperança em Gomes Freire e vê a sua prisão como uma espécie de traição. Porém, Rita, compreende o sofrimento de Matilde de Melo, talvez por ser mulher, revelando uma grande cumplicidade com esta. 
Manuel é o elemento que polariza os restantes elementos do povo, dominados pela miséria, sem coragem e vontade de intervir.
Ambas as personagens sentem que a luta está perdida e que a situação é pior do que pensavam, e para demonstrar isto mesmo temos a afirmação de Manuel quando diz:”Se tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome…Se durante uns tempos, acreditámos em nós próprios, voltamos a não acreditar em nada…”, enquando Rita aconselha para não se meter em confusões que é representada com a seguinte passagem: “Nunca te metas nestas coisas, Manuel! Haja o que houver, nunca te metas com eles. Prefiro ver-te com fome, a perder-te”. 
Manuel e Rita acabam também por simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma legião de miseráveis face à quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.

 Fim da 3ª parte
 Publicado por José Fernandes Rodriguez