O BlogBESSS...

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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


quinta-feira, 4 de março de 2010

A Obra de Luís de Camões...


Contudo, através da sua obra, uma outra faceta ressalta da sua vida. Camões terá sido de facto um homem determinado, humanista, pensador, viajado, aventureiro, experiente, que se deslumbrou com a descoberta de novos mundos e de "Outro ser civilizacional".
Considerado o poeta da nacionalidade, o interesse pela sua obra aumenta através da epopeia moderna Os Lusíadas, depois da perda da independência, intensificando o sentimento de identidade nacional.
Cultivou também o teatro, mas afirma-se sobretudo na poesia lírica (Rimas), com grande variedade de géneros nomeadamente sonetos, canções, éclogas e redondilhas.

1572- Os Lusíadas
1587 - El-Rei Seleuco
1587 - Auto de Filodemo
1587 - Anfitriões
1595 - Amor é fogo que arde sem se ver
1595 - Eu cantarei o amor tão docemente
1595 - Verdes são os campos
1595 - Que me quereis, perpétuas saudades?
1595 - Sobolos rios que vão
1595 - Transforma-se o amador na cousa amada
1595 - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
1595 - Quem diz que Amor é falso ou enganoso
1595 - Sete anos de pastor Jacob servia
1595 - Alma minha gentil, que te partiste



Os Lusíadas e a obra lírica

Os Lusíadas, é a epopeia portuguesa por excelência e foram publicados em 1572 no Classicismo, três anos após o regresso do autor do Oriente. Compõem-se de dez cantos, 1102 estrofes (8 versos cada) que são oitavas decassílabas, sujeitas ao esquema rímico fixo ABABABCC - oitava
rima camoniana.

O herói da epopeia é colectivo, como o título indica, o Lusíada, ou o filho de Luso, isto é, os Portugueses. Se olharmos às estrofes iniciais do discurso de Júpiter no Consílio dos Deuses olímpicos, que abre a parte narrativa, facilmente captamos a orientação laudatória do autor: Desde Viriato e Sertório, a gente de Luso é um povo predestinado pelos Fados para grandes empreendimentos. O desenrolar da sua história atesta-o, pois, além de ser marcada pelas sucessivas e vitoriosas lutas contra Mouros e Castelhanos, mostra-nos como uma nação tão pequena descobre novos mundos ao Mundo e impõe a sua lei no concerto das nações. No final do poema, constatamos ainda que se confirma, na Ilha dos Amores, verdadeiro fecho pela ficção da gloriosa caminhada portuguesa através dos tempos, o receio uma vez expresso por Baco de que Os Portugueses viessem a tornar-se Deuses. Os feitos gigantescos dos Descobrimentos portugueses e o «novo reino que tanto sublimaram» no Oriente, e certamente as recentes e tão extraordinárias façanhas do «Castro forte» (o vice-rei D. João de Castro), falecido poucos anos antes do poeta aportar a terras indianas, foram sem dúvida estímulos determinantes para que ele se lançasse à tarefa ingente, e desde há muito ambicionada, de redigir a epopeia portuguesa. Camões dedicou sua obra-prima ao rei D. Sebastião, rei de Portugal.

O poema pode ser lido numa perspectiva que já era antiga, mas a que factos recentes haviam dado acrescida actualidade, a da cruzada contra o Mouro. As lutas no Oriente seriam a continuação das que já se haviam travado em Portugal e no Norte de África, dominando ou abatendo o poder do Islão. Efectivamente, em 1571, a desmesurada arrogância do Sultão turco, que ameaçava a Europa, tinha sido abatida em Lepanto. E comandara as forças cristãs D. João de Áustria, filho bastardo de Carlos V, o avô de D. Sebastião. Foi possivelmente neste contexto de exaltação que o poeta incitou o jovem rei português a partir em conquista para a África, com os desastrosos efeitos que daí se seguiram.

Os Lusíadas é considerada a principal epopeia da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. As realizações de Portugal desde o Infante D. Henrique até à união dinástica com Espanha em 1580 são um marco na História, marcando a transição da Idade Média para a Época Moderna. A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses qu
e navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia. É uma epopeia humanista, mesmo nas suas contradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer e nas exigências de uma visão heróica.

A obra lírica de Camões foi publicada como Rimas", não havendo acordo entre os diferentes editores quanto ao número de sonetos escritos pelo poeta e quanto à autoria de algumas das peças líricas. Alguns dos seus sonetos, como o conhecido Amor é fogo que arde sem se ver, pela ousada utilização dos paradoxos, prenunciam o Barroco.


O estilo

É fácil reconhecer na obra poética de Camões dois estilos não só diferentes, mas talvez até opostos: um, o estilo das redondilhas e de alguns sonetos, na tradição do Cancioneiro Geral; outro, o estilo de inspiração latina ou italiana de muitos outros sonetos e das composições (h)endecassílabas maiores. Chamaremos aqui ao primeiro o estilo engenhoso, ao segundo o estilo clássico.

O estilo engenhoso, tal como já aparece no Cancioneiro Geral, manifesta-se sobretudo nas composições constituídas por mote e voltas. O poeta tinha que desenvolver um mote dado, e era na interpretação das palavras desse mote que revelava a sua subtileza e imaginação, exactamente como os pregadores medievais o faziam ao desenvolver a frase bíblica que servia de tema ao sermão. No desenvolvimento do mote havia uma preocupação de pseudo-rigor verbal, de exactidão vocabular, de modo que os engenhosos paradoxos e os entendimentos fantasistas das palavras parecessem sair de uma espécie de operação lógica.

É o grande poeta do maneirismo português, pela filiação na tradição clássica à maneira renascentista, sensível ao conhecimento pela experiência que a época e as viagens lhe permitem.

A sua obra é enriquecida por uma vivência sensível do sentimento e do saber, modulada na imitação dos antigos mas permeável às marcas contemporâneas de uma existência em mutação. Por isso ela se caracteriza por uma enorme complexidade, na qual sobressai a vivência aguda de tensões que comunicam ao seu lirismo uma agudeza simultaneamente experiencial e literária.

Busque Amor novas artes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes, nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como e dói não sei porquê.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se d'uma outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
que d'uns e d'outros olhos derivadas
s'acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.

Recolha e Organização: Prof.ª Verónica Carvalho

Biografia de Luís de Camões (1524-1580)




Luís de Camões
(c.1524 - 10 de Junho de 1580)


Nome conhecido de todos os falantes da língua portuguesa, Luís Vaz de Camões, provavelmente oriundo da pequena nobreza com raízes galegas, terá nascido em Lisboa por volta de 1524/1525, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá e Macedo. Por via do pai, seria trineto do trovador galego Vasco Pires de Camões e por via da mãe aparentado com o navegador Vasco da Gama. Reclamado por muitas terras como o seu filho nativo, consta que, sob a protecção do seu tio paterno, D. Bento de Camões, frade de Santa Cruz e chanceler da Universidade de Coimbra, estudou Literatura e Filosofia nessa cidade. Trocou os estudos pelo ambiente da corte de D. João III, viveu em Lisboa, entre 1542 e 1545,conquistando fama de poeta e feitio altivo.

Do pouco que se conhece da sua vida, fica-se a saber que era repleta de infortúnios e aventuras. Foi desterrado várias vezes, sendo uma, como soldado, para Ceuta, em 1549 onde perdeu o olho direito em combate. Entre 1547 e 1550 foi obrigado a desterrar-se em Constância, por ofensas a uma dama da corte.
Regressou a Lisboa em 1551 retomando a vida boémia. São-lhe atribuídos vários amores, não só por damas da corte mas até pela própria irmã do Rei D. Manuel I.
No ano seguinte, na sequência de uma rixa em que feriu um funcionário da Cavalariça Real, foi preso e conduzido para a cadeia do Tronco.
O Oriente
Índia (Goa)


Nove meses depois obteve perdão do agredido e do rei: " é um mancebo e pobre e me vai este ano servir à Índia". Nesse mesmo ano desembarcou para a Índia, deixando para trás Lisboa, que já se desencantou.

Contudo também ficou decepcionado com a Índia, e de Goa que considerou a cidade como uma "madrasta de todos os homens honestos", fez a seguinte descrição:

Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá donde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;
Cá, onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a desengana;
Cá, neste labirinto, onde a nobreza,
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;
Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

De acordo com alguns estudiosos, terá começado ali a escrever Os Lusíadas ao mesmo tempo que estudava os costumes de cristãos e hindus, e a geografia e a história locais. Tomou parte em mais expedições militares. Numa das várias expedições militares em que participou, no Cabo Guardafui, em 1554, escreveu o que é considerado uma das mais belas canções:

Junto de um seco, fero e estéril monte,
inútil e despido, calvo, informe,
da natureza em tudo aborrecido;
onde nem ave voa, ou fera dorme,
nem rio claro corre, ou ferve fonte,
nem verde ramo faz doce ruído;
cujo nome, do vulgo introduzido
é felix, por antífrase, infelice;
o qual a Natureza
situou junto à parte
onde um braço de mar alto reparte
Abássia, da arábica aspereza,
onde fundada já foi Berenice,
ficando a parte donde
o sol que nele ferve se lhe esconde;
nele aparece o Cabo com que a costa
africana, que vem do Austro correndo,
limite faz, Arómata chamado (…)
Macau
Em Macau, no ano de 1556, exerceu o cargo de "provedor-mor dos defuntos nas partes da China", e diz a tradição que escreveu, na gruta hoje reconhecida pelo seu nome, mais seis Cantos do famoso poema épico.
Índia, ...

Na viagem de regresso a Goa, antes de Agosto de 1560, naufragou na foz do Rio Mekong, e ao que parece, conseguiu salvar o manuscrito de Os Lusíadas, facto descrito no Canto X, 128. No desastre teria morrido a sua companheira chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos. É possível que datem igualmente dessa época ou tenham nascido dessa dolorosa experiência as redondilhas "Sôbolos rios".

De regresso ao reino, em 1568 fez escala na ilha de Moçambique, onde, passados dois anos, Diogo do Couto o encontrou, como relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava "tão pobre que vivia de ami- gos". Trabalhava então na revisão de Os Lusíadas e na composição de "um Parnaso de Luís de Camões, com poesia, filosofia e outras ciências", obra roubada. Diogo do Couto pagou-lhe o resto da viagem até Lisboa, onde Camões aportou em Abril de 1570, na nau Santa Clara : "Em Cascais, as naus fundeadas esperavam que Diogo do Couto voltasse de Almeirim, onde fora solicitar de el-rei a sua entrada no Tejo, porque Lisboa estava fechada com a peste. Logo que a ordem veio, a Santa Clara"" entrou a barra."
Regresso a Lisboa

Cerca de dezasseis anos após ter se desterrado, Luís de Camões, em 1569/1570, regressou a Lisboa na nau Santa Clara. Pelo facto de se encontrar na miséria, teve que ser os seus amigos a pagar as suas dívidas e comprar-lhe o passaporte. Só três anos mais tarde conseguiu obter a publicação da primeira edição de Os Lusíadas, que lhe valeu de D. Sebastião, a quem era dedicado, uma tença anual de 15 000 réis pelo prazo de três anos e renovado pela última vez em 1582 a favor de sua mãe, que lhe sobreviveu.

Ao que consta, Camões viveu os seus últimos anos perseguido pela doença e pela miséria. Diz-se que foi graças à dedicação de um escravo Jau, trazido da Índia, que não morreu de fome; este ia de noite, sem o poeta saber, mendigar de porta em porta o pão do dia seguinte.

Em 1580, em Lisboa, assistiu à partida do exército português para o norte de África. Faleceu, vítima da peste, a 10 de Junho desse ano, numa casa de Santana, em Lisboa, e o seu enterro, numa das igrejas das proximidades, foi feito a cargo de uma instituição de beneficência, a Companhia dos Cortesãos.

Na campa rasa estava inscrito este epitáfio significativo: "Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente, e assim morreu." Os seus restos encontram-se actualmente no Mosteiro dos Jerónimos.

No dia da sua morte comemora-se o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

Recolha e Organização: Prof.ª Verónica Carvalho


FONTES:

http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/camoes.htm (Literatura Portuguesa - Camões)
http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes/doc_details.html?aut=182 (Os Lusíadas em PDF, Leitura, Prefácio e Notas de Álvaro Júlio da Costa Pimpão. Apresentação de Aníbal Pinto de Castro. Biblioteca Digital Camões, Instituto Camões, 4.ª Edição 2000
http://fredbar.sites.uol.com.br/camo1.html (Estudo de ‘Os Lusíadas’)
http://purl.pt/1/2/ - Biblioteca Nacional Digital - Os Lusíadas , - Edição de 1572, conhecida por edição "Ee".